Crônica I
Logo estaremos com quase sete bilhões de habitantes no planeta, um número que poucas mentes conseguem imaginar. É até melhor que não conjeturemos, pois cada vez que tentamos compreender, chegamos a triste conclusão de que somos literalmente insignificantes em nosso meio.
Quando estou sozinho, admirando a vastidão incomensurável do céu, percebo que me atenho a determinados fatos que não merecem tamanha importância. Inúmeras foram as vezes que passei o dia todo preocupado com afazeres da escola, quando no fim, tudo terminou bem. Durante esse tempo, milhares – ou até bilhares – de acontecimentos circundaram todo o mundo, sendo a maioria muito mais merecedores de minha atenção do que simples para-casas. Mas, ainda que eu viesse focalizar tais anomalias, o vazio da inutilidade me prenderia em meu pequeno mundo, novamente.
Por mais que digam que cada um deve fazer sua parte, é inquestionável relevar que, sozinho, não tenho importância. O lado mais ignorante e egoísta de minha mente se sobressai quando estou na companhia de alguém, e consegue relaxar-me, fazendo com que eu ceife esses pensamentos por determinado momento e centralize minha atenção em meu cotidiano ou em alguma diversão momentânea.
Dizem que a solidão é irmã da sabedoria, e é o isolamento que me faz enxergar a vida dessa maneira, gerando conseqüentemente tristeza e falta de auto-estima – Talvez justifica a ânsia de muitos em sair desse estado. Alguns se deparam com a pergunta: “Qual é o objetivo da vida?”, chego à conclusão que o papel de toda crença ou religião seja saciar esse questionamento. As pessoas procuram autoconhecimento, e através da comunhão realizam seu desejo.
Afinal, será mesmo que sentimentos como amizade e amor que vivenciamos tão intensamente irão deixar de existir com a morte, nossa única certeza? Tememos o desaparecimento e criamos diversas expectativas para a vida pós-morte. Reparando em pequenos detalhes, podemos perceber que talvez o fim de nossa existência possa ser belo. O desabrochar de uma rosa e uma folha seca se desprendendo do galho que restringiu sua liberdade durante toda vida, igualmente encantador.
É tudo um grande mistério, a cada reflexão mais duvidas surgem, e a cada duvida mais uma teia de possíveis reflexões. Não há quem possa dizer o que é certo e errado, o livre arbítrio de seguir o caminho que desejamos foi uma dádiva concedida a nós, seres humanos, desde que nos foi dada racionalidade. Ainda assim os alicerces da sociedade restringem esse direito, forçando os que nela se apóiam a pensar uniformemente – Conveniente para os ricos, falta de escolha para os pobres.
Não é fácil, chego a pensar que o egoísmo é uma característica que se institui conosco. Julgar pessoas e seus feitos é incorreto. Acredito que não existam homens ruins ou bons, somos iguais, o que muda é a compatibilidade e flexibilidade de admitir os defeitos e qualidades do outro. Todo ato é justificável, por mais radical que pareça, Esse ambiente de pré-conceito em relação aos próprios irmãos deve se reverter, caso contrário pereceremos antes de refletir o bastante sobre os mistérios de vida.
A fé é o único caminho para o entendimento, antecedendo-a só deve estar o respeito. Parece simples, mas é a falta desse valor que tem gerado inúmeros problemas em todo o mundo, além da necessidade perceptiva de que, juntos, poderíamos sem duvida mudar esse quadro. Não sou o mais indicado para dizer isso, mas sinto-me no dever de alertar: Se pensássemos menos no sentido singular de nossa vida, estendendo a mão para os que mais necessitam, uma corrente inabalável poderia nascer, abraçando a paz que comodamente almejamos e pouco nos sacrificamos para conquistá-la.