As diversas marolinhas brasileiras
Se compararmos a situação do Brasil com relação à crise econômica mundial pelas notícias que recebemos diariamente através mídia - longe de processo de analises político ou econômicas - mas através da observação, poderíamos constatar que realmente ela chegou ao país simplesmente como marolinha, apesar de já estarmos em recessão técnica. Mas, o importante é dizer agora que não são os meios neste momento que preocupam, mas o fim. Com tsunami ou marolinha o prejuízo acontece, e somados a diversas marolinhas que o Brasil teima em ocultar, mantendo os em águas calmas, a avalanche é grande.
Uma marolinha de desempregados recorrendo ao auxílio desemprego para poder superar esta pequena onda. Neste minúsculo barco, com sua família, remando cansativamente antes que a onda alcance proporções maiores, aproveitam a “garantia” de 5 meses, pré-naufrágio, para sua sobrevivência, até que se construam novos estaleiros.
Se grandes empresas no Brasil não quebraram, devido às medidas adotadas pelo governo Lula, que sem dúvidas tomou as no momento exato e correto, graças ao superávit, que o país dispunha, outras, aproveitando da crise, abusam nos salários oferecidos aos funcionários, e em nome desta, humilham com bóias salva-vidas, apenas para que eles não se afoguem, constituem outra onda desta marolinha.
Mas, se o reflexo da crise que esta provocando o desemprego, freando o crescimento do país, é uma marolinha, ela veio apenas a se acrescentar às marolinhas da educação, da desigualdade social, do sistema de saúde, reforma tributária, judicial e da impunidade, todas navegando em alto mar, a tempo, em belos cruzeiros turísticos apoteóticos.
A marolinha do sistema de saúde encontra-se em estado terminal há décadas, e não podemos praticar a eutanásia, há de se descobrir uma vacina, um antídoto pelo qual poderemos trazê-lo de volta, restaurando a sua saúde. Para isso bastaria que os cientistas dispusessem de vontade. A população tem este direito e é obrigação, dever, do Estado amparar os cidadãos. Plano de Saúde particular foge da realidade brasileira.
O salário mínimo, esta marolinha, que durante alguns anos ganha índice além da inflação tem amenizado a miséria total e em conjunto com o assistencialismo que não se finda, alivia a dor desses enfermos. Mas muito, e muito longe de termos uma distribuição de renda digna para o ser humano sobreviver honradamente. As reformas tributárias, outra marolinha, que não saem do papel que poderiam aliviar os encargos empresariais, se por bom senso seu egoísmo não continuasse a corroê-los, poderiam ser repassados aos funcionários aumentando o poder aquisitivo, consequentemente, o crescimento do Pais. Entretanto, é interminável o duelo empresários, governo.
Se pensarmos em termos da marolinha da educação, a situação é caótica, em quase todos estados brasileiros. Salas de aula sem a menor infra-estrutura, professores ganhando mal. Contrastando com a situação, outros professores numa árida tarefa e raro brilhantismo, acreditando sempre nas várias possibilidades de mudança, lutam anonimamente para passar o mínimo de conhecimento a essas pobres crianças, que aos 14 anos de idade são obrigadas a abandonarem seu estudo para complementar o rendimento familiar.
Lamentamos-nos quando vemos os meios de comunicação incansavelmente divulgarem notícias, de marolinhas, que classificamos as como ruins: pedofilia, assaltos, estupros, assassinatos, prisões, solturas e corrupção, ocupando o espaço que poderia ser preenchido com notícias sobre educação, cultura, desenvolvimento, conhecimento, programas de melhor qualidade, dentro de uma utopia ainda não realizável, de interesse de toda a sociedade, à altura de seu conhecimento. A imprensa luta constante, e de forma brilhante, em nome da sociedade, para combater a impunidade, o abuso de poder e as falcatruas políticas, garantir o direito individual e coletivo para que nós não sejamos manipulados sem saber os porquês.
Está na hora do Brasil eliminar todas as marolinhas. O brasileiro precisa de praia calma e segura para poder ter seu lazer. Por isso, quando tivermos uma reforma tributária, poderemos pensar em uma distribuição de renda melhor ao povo brasileiro. Quando priorizarmos a educação infantil e valorizar os professores começaremos a obter conhecimento. Quando tivermos o conhecimento as informações da imprensa terão novos rumos. Quando tivermos uma justiça séria veremos que não se mede os assassinatos e delitos pelo poder aquisitivo. Quando tivermos igualdade social não nos importaremos se uma garrafa de champanhe custa R$ 180,00 ou R$ 200,00 e se o jantar de um deputado custa em torno de R$ 700,00.
Este conjunto de marolinhas nos leva a crer que o Brasil é um Tsuname fragmentado, onde uma minoria encontra-se ancorado em porto seguro, e a maioria nada, descontroladamente em alto mar, à procura de uma pequena ilha.
O povo brasileiro é esperançoso, paciente, mas não é cego e nem surdo. A imprensa nos alerta nos informa. Novas eleições virão. Novos governantes. Novas escolhas. A cada uma, novos avanços, até um dia nos encontrarmos em alto mar, confraternizando com as grandes potências, não apenas nas palavras, mas diante da igualdade social.