O Tempo é para todos nós.

Já escrevi algumas coisas sobre o tempo, já o chamei de “senhor absoluto das verdades”, já disse que o “tempo não volta atrás”, e, que, portanto, seria “perda de tempo” correr atrás do “tempo perdido”, pois “tempo perdido não se recupera”. Disse em outra crônica que o tempo seria um “contabilizador da finitude humana”, assim o homem vive em função do tempo, porém, o tempo não está nem ai para o homem. O tempo na verdade, não existe, nós o inventamos e até agora não aprendemos a lidar com ele.

Lembro-me de que Chaplin o “Carlitos”, dizia que a vida deveria iniciar ao contrário, nasceríamos em um asilo, e rumaríamos a juventude já cheios da experiência, e por fim a vida terminaria num grande orgasmo. Ao assistir o filme “O curioso caso de Benjamim Button”, pude refletir um pouco mais sobre nosso relacionamento com o tempo. O filme contrasta com a posição de Chaplin. Benjamim vive inversamente a todos nós, enquanto vê seus amigos do asilo morrerem um a um, ele vai ficando a cada dia mais forte, aos poucos vai se rejuvenescendo, se apaixona quando sua amada tinha apenas vinte anos e ele parecia ter sessenta. Quando sua amada chega aos quarenta, Benjamim já é um jovem rapaz, por fim, ela o nina em seus braços no mesmo asilo onde ela nasceu.

O tempo passa para todos nós, mas há aqueles que se permitem continuar jovens, espirituosos e otimistas quanto suas vidas. Outro dia li que uma velhinha que acabara de fazer cem anos, dizia gostar muito de uma suculenta carne de porco e de uma seresta. Ontem liguei para o meu pai, pois ele fez setenta anos, perguntei:

- Como esta se sentindo? E ele respondeu com a firmeza e serenidade de sempre.

- Melhor do que quando tinha vinte anos!

Meu pai, na verdade não pode mais realizar as coisas que fazia aos vinte anos, mas não se trata do corpo físico, trata-se do vigor interior, a jovialidade se encontra em nossas mentes, não nesta carcaça que com o tempo vai ficando pelancuda e quebradiça.

Felizmente meu pai nos mostrou como se lida com esse tal de tempo, nunca reclamou, murmurou ou lamentou o tempo que passava diante dele, apenas o observava serenamente, como se dissesse ao tempo – você não me assusta!

Hoje aos setenta anos, vimos que se quisermos ser felizes em nossas vidas, há lições importantes a aprender com meu pai. Ele descobriu que vale a pena viver por aquilo que morreríamos.

Jcarval.

J Carval
Enviado por J Carval em 14/06/2009
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