A EDUCAÇÃO COM CONSEQUÊNCIA (Filho de professora invade escola e mata 27 nos EUA)
Uma mãe que também é professora, de cujo filho sou professor, disse-me a coordenadora que ela estava aterrorizada por medo de que eu pudesse estar marcando seu filho para a reprovação! Isso aconteceu pela terceira vez, pois ela mesma já tinha falado comigo. Na tal conversa, falei quem era seu filho na sala: um dos piores, em comportamento e aprendizagem. Eu não condeno essa mãe professora por alimentar tamanho medo. Apenas a compreendi ternamente e procurei ganhar melhor a sua confiança com a verdade.
Estou aprendendo muito com esse filho de professora. Já tive outros filhos de professor como aluno. Mas, eu os tinha sempre como exemplos de aluno, apesar do fato de que evidentemente eles nunca foram bons exemplos, tratavam-me com o mesmo descaso que provavelmente tratavam seus pais, pelo o motivo que eles sempre misturam os papéis: o professor na pele de mãe e a mãe na pele de professor. Mesmo que esse aluno basicamente se preocupasse comigo e com os colegas, não deixou de se colocar como fofoqueiro, inventando tantas mentiras para denegrir minha imagem perante sua mãe; sentia grande necessidade de ter cuidado de si mesmo. Não confiava em professor algum.
Não obstante, agora estou coagido a ceder a seus caprichos, ele levanta a hora que quer, não posso impedi-lo de ir ao banheiro, conversa à vontade, perturbando o bom andamento da aula, pois não posso repreendê-lo. E estou obrigado pelas circunstâncias a facilitar para que tire notas boas, tenho medo que interprete minha atitude de bom professor como marcação; conte à sua mãe, e ela venha correndo pela quarta vez à escola, e dessa vez fale com a diretora.
Que visão acanhada! Como se me dissesse que não é capaz de acompanhar os outros com a mesma competência. Eu não poderia admitir por fim que seja destruído, mas sua mãe não me deixa trabalhar melhor. É como diz o dito popular: "Casa de ferreiro espeto de pau".
Eu sei que condenando esse aluno, não estaria resolvendo o seu problema. Isto jamais resolve os problemas de alguém. Assim, o melhor que posso fazer é deixá-lo tranquilo, não o prejudicarei mais do que já estar e que descubra ao longo de sua vida escolar que tem diferença entre professores. Não sou de marcar aluno, afinal, não chamo a atenção de aluno algum que não seja para demonstrar-lhe maior cuidado. E esses filhos de professores respondem geralmente, com maior ou menor gravidade, à maneira de Ryan Lanza. "O policial disse que a mãe de Ryan Lanza, Nancy Lanza, trabalhava como professora na escola. Um atirador de 24 anos que matou 27 pessoas numa escola elementar Sandy Hook em Newtown." http://www.dgabc.com.br/News/5999387/eua-atirador-mata-pelo-menos-27-em-escola-primaria.aspx (visto em 15/12/012).
Agora estou condescendendo com esse aluno, por medo do que poderá acontecer à minha reputação e por se tratar de um filho de professora, perdi a confiança e o respeito dele. Sei que somente quando chegar a perceber que minha atitude anterior — digo antes de descobrir que ele era filho de professora — seria seu melhor caminho, totalmente adequado, vai lamentar, pois poderá ser tarde demais para que nossos temores finalmente sejam desfeitos. Poupe-me e não me torture com a pergunta mais desprovida de sabedoria e de boas intenções: Por que meu filho tirou esta nota? "Casa de pai, escola de filho"