ACHO QUE EU VOU MENTIR

Leilinha nasceu no Rio de Janeiro em uma família milionária, que tinha várias empresas no Brasil e algumas delas em Vitória.  Quando adolescente, seus pais, cansados da violência carioca, decidiram se mudar para a Cidade Presépio, e um dia, durante um curso de língua inglesa, eu a conheci e dela me tornei amiga.
 
Seus pais, percebendo o “tesouro” que tinham dentro de casa, temendo que ela assumisse sua alma cosmopolita e decidisse morar em outro país, pensaram que seria muito bom se a menina fosse desposada por algum fazendeiro, médico, engenheiro ou funcionário do Banco do Brasil (já foram os sonhos de muito pais!). Como havia risco, também, de ela resolver se encantar por algum “pé de cachorro”, eles lhe legaram o “GLOSSÁRIO MP, P & MC”, aplicável a qualquer membro da família de pseudos pretendentes. O referido “documento” nada mais era que o seguinte:
 
MP = MUITO POBRE: aquele que conserta as tiras de sandálias havaianas com prego; reforma para o filho a roupa que foi do pai ou do avô; usa pregador de roupas para fechar o pacote de café, açúcar, macarrão; toma banho de sol na laje; lambe a tampa metálica do iogurte; junta jornais, latinhas e garrafas para vendê-los; esquenta a ponta da caneta esferográfica para ela render mais; remenda coador de pano; guarda vinho velho para fazer vinagre, sobras de sabonete para depois fazer uma bola só e resto de macarronada para fazer sopa no outro dia;  pede um pratinho ao dono da festa “para levar para mamãe”; junta tickets para ganhar um sorvete; não dá descarga após usar o vaso sanitário porque tem de “juntar”bastante; pechincha em loja de R$1,99.
 
P = POBRE: pessoa que compra carro e não tira o plástico dos bancos para todo mundo saber que é novo; vai ao restaurante e, antes de pedir a comida, pergunta se aceitam ticket; fica com fome durante a viagem aérea só para levar o lanchinho para os filhos; “leva como lembranças” os sabonetinhos, xampus, manteiguinhas e geleinhas garimpados nos hotéis; pede uma quentinha ao garçom para levar as sobras “para o cachorro”; “oferece” churrasco em sua casa, mas os amigos têm de levar carne e/ou cerveja; convida para casamentos, “chás” de cozinha, de bebê, de beleza e deixa claro o que quer ganhar e onde tem de comprar; paga os funcionários sem arredondar, para cima, os centavos; durante jantares deixa o convidado se servir apenas do arroz e das saladas, a carne é servida pelo garçom.
 
MC = MAU CARÁTER: aquele que estaciona na frente do prédio, buzina ou grita chamando o dono da casa; “leva como lembranças” copos, talheres e cinzeiros dos restaurantes; entra numa loja de calçados, prova um monte de pares e diz para o vendedor: “volto mais tarde”; copia modelo inteiro da vitrine para depois fazer em casa; cria caso se a caixa do supermercado não tiver os R$0,05 para lhe dar de troco; mora em casa bacana, anda em carro do ano, mas esquece-se de pagar a quem deve; quando sai em grupo, pede o que há de mais caro no cardápio, mas quer dividir a conta por igual; o seu serviço tem o preço que ele quer e o dos outros... também.
 
Tantos dotes e formosura não tardaram a ser percebidos não só por um fazendeiro, um médico, um engenheiro e um funcionário do Banco do Brasil, como também por um funcionário da Petrobrás, um empresário e um advogado de sucesso. A exemplo da história da “Dona Baratinha” que era “formosa, bonitinha e tinha dinheiro na caixinha”, ela testava seus pretendentes com as seguintes perguntas:
 
Leilinha: Você acha legal insinuar que alguém tenha de nos presentear?
Candidato: Sim!
Lelinha: Você acha bonito dizer onde alguém tem de comprar presente?
Candidato: Claro!
Leilinha: Em sua opinião quem deverá servir a carne do jantar de nossa festa de casamento?
Candidato: Os garçons!
 
Essas respostas alertavam seu cérebro, que concluía; POBRE! PENSA QUE É RICO, MAS É POBRE! Recentemente recebi um e.mail de Leilinha, que hoje mora em Fort Lauderdale (um lugar onde só vivem milionários), nos EUA, e me pergunta, divertidamente, se o capixaba já saiu do “GLOSSÁRIO MP, P & MC"
 
Não posso falar pelo “capixaba”, mal sei sobre o linharense e ....Sinceramente? Acho que vou mentir, pessoal!
 
 
 
 
 
NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 14/06/2009
Reeditado em 26/09/2014
Código do texto: T1647940
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