O "SARGENTO" da rua

Tem um texto de Tutty Vasques chamado “Dê uma chance ao ser humano” que ele conta a história sobre os seus vizinhos, um casal, e o incomodo que os seus cachorros criaram durante um ano em sua rua e na sua vida, pois no meu caso esse incomodo já dura uns quinze anos, e não é apenas com os cachorros (que parecem brotar da terra, morrem, somem e aparecem de maneira extraordinária), mas principalmente com a dona dos cachorros (que carinhosamente apelidamos de “SARGENTO”), não passa uma alma, seja ela viva ou não, um carro ou qualquer coisa que esteja em movimento, que o sargento não queira saber da onde vem e para onde vai, um absurdo.

No início relevávamos, achávamos até graça, daquela mulher com o seu enorme corpanzil, peitos pela cintura, cabelos espetados, vestida em enormes saias, camisetas compridas e calçando as velhas “havaianas”, que sempre nos cumprimentava quando passávamos em frente a sua casa, acabávamos de chegar e acreditávamos que apenas estava querendo ser gentil, como devem ser os moradores de uma rua de uma cidade pequena.

Moramos no final de uma rua sem saída (mas sem saída mesmo, literalmente em todos os sentidos), que se inicia na avenida principal do bairro e termina em frente ao último sítio, que faz divisa com o nosso, por ser toda íngreme não existe nenhuma possibilidade de passar rapidamente em frente a casa dela, que fica localizada justamente no meio do morro onde a subida é bem forte, ou seja, até os veículos precisam passar em primeira marcha, se fosse no Rio de Janeiro seria um lugar estratégico.

Como não tem marido (não estou dizendo aqui que as mulheres sem marido são todas á toa, longe disso, por favor), parece ficar as vinte e quatro horas no ar, não importa a hora que passe ou silêncio que faça, é passar e ela aparecer com as suas perguntas (nem os EUA possuem um sistema de vigilância tão eficaz), quando não aparece, fica observando pelo vitrô da cozinha, como estivesse pensando: “pensou que não ia ver heim?”, fora os seus colegas que latem desesperadamente como quisessem chamá-la.

Fico pensando será o seu passatempo ou uma paranóia? Louca eu sei que ela não é, ah isso eu tenho a certeza, juro que se tivesse grana a enviaria ao um psiquiatra, psicanalista ou psicólogo, ou melhor, traria todos para verificarem o seu comportamento, e só descansaria depois de um prognóstico plausível, para que aí sim pudesse absolvê-la ou interná-la de vez.

Vocês devem estar pensando que eu estou exagerando ou sendo muito radical na atitude que tomaria, no entanto nem Dalai Lama acostumaria com essa conjuntura, não posso falar aqui pelos outros vizinhos (se me dessem a procuração), mas no meu caso não aguento mais ser vigiado ou ser questionado sobre isso ou aquilo, e infelizmente toda a educação que os meus pais me deram não permite que eu a mande tomar no c..., mesmo que ela mereça.

Sempre que escuto rumores da sua mudança, compro algumas caixas de rojão para soltar em sua despedida, e sempre (p... que pariu) acabo estourando em outras ocasiões, pois não passam de boatos, na verdade se possuísse alguma condição já teria saído daqui nem que fosse para pagar aluguel. Porém vocês não acham muito desaforo ter que pagar aluguel tendo a sua própria casa? Enquanto aquele ditado que os incomodados que se mudem? Neste caso não deveria ser ao contrário? Os que incomodam que se mudem.

É complicada essa questão, Tutty Vasques acredita ser possível ainda “dar chance ao ser humano”, Todavia será que todos devem merecer essa chance? Sem saber a resposta ainda acabei me adequando a situação, e de um jeito interessante, utilizando a tecnologia, comprei um desses MP’s e gravei algumas músicas que já no início do morro ponho para tocar nos fones de ouvido, assim quando chego perto da casa do “SARGENTO” estou distraído e já nem escuto mais o que ela está perguntando, aceno com a cabeça desejo um bom dia, boa tarde ou boa noite dependendo do horário e sigo no meu caminho.

Ela que vá perturbar outro soldado, digo, outro vizinho. Hahahahaha

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 13/06/2009
Código do texto: T1647096
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