O precursor do jornalismo em Itabaiana
Arthur Coelho, afilhado do pai de Augusto dos Anjos, viveu nos Estados Unidos e foi um intelectual de altíssima qualidade
Em março de 1973, falecia aquele que foi um dos maiores intelectuais paraibanos, precursor do jornalismo na cidade de Itabaiana, poeta, homem de letras, pensador e esteta de altíssima qualidade. Na América do Norte, para onde emigra, estabelece-se em Nova York, tornando-se crítico cinematográfico, vindo a trabalhar na empresa de cinema Paramount Pictures Co., a cujo serviço permaneceria por mais de 30 anos como assessor cultural, censor de scripts e tradutor das legendas dos filmes produzidos.
Esse brilhante cidadão do mundo nasceu em Sapé, criando-se em João Pessoa e Itabaiana, passando dois anos em São Paulo e um ano no Amazonas. Foi batizado na antiga vila de Espírito Santo, servindo-lhe de padrinho o pai de Augusto dos Anjos. Depois, dona Cândida, sua mãe, converteu-se ao protestantismo.
Escreveu uma espécie de português sem mestre, o “Brazilian Portuguese Self-taught”, saído durante a 2ª guerra mundial, de onde foram impressas cinco edições. Escreveu o célebre livro de contos, “Um brasileiro em Sing-Sing e outros contos da América”, cuja primeira edição saiu pela Editora da Universidade Federal da Paraíba. Sing-Sing é um grande presídio existente em Nova York. O conto principal do livro é a história de um brasileiro que se viu preso lá. “Quase autobiográfico”, afirmou Arthur Coelho, em carta ao amigo Guimarães Barreto, em 17 de julho de 1972.
“Arthur Coelho merece as homenagens dos paraibanos, pelo seu ilibado caráter, sua brilhante inteligência e extremado amor à terra natal, a quem serviu, amou e dignificou desinteressadamente durante sua longa, útil e proveitosa existência”, afirmou o mesmo Guimarães Barreto.
PRECURSOR DO JORNALISMO
Por volta de 1890, Arthur Coelho matriculou-se na escola da professora Alexandrina Nacre, na Rua da República nº 55, em João Pessoa, onde fez o primário. Teve como companheiros de escola Aderbal Piragibe e seu irmão Oscar da Silva, João Pessoa, futuro bacharel em direito e Presidente da Paraíba, e Mardokeu Nacre, filho da professora, que viria a ser um dos mais celebrados poetas paraibanos.
Foi aprender a arte tipográfica em uma oficina de João Pessoa, tornando-se tão competente em seu ofício que foi convidado pelo juiz de Itabaiana, Heráclito Cavalcanti, para editar o jornal O MUNICÍPIO, que fundara naquela comarca, sendo o primeiro jornal a circular em Itabaiana. Arthur Coelho virou tipógrafo, impressor e redator daquele periódico na terra de Zé da Luz, demorando uma temporada naquela cidade, onde exerceu grande influência, conforme registro no livro “Itabaiana, sua História, suas Memórias”, de Sabiniano Maia.
Em Itabaiana, onde ele passara os melhores anos de sua vida, conforme depoimento ao mesmo Guimarães Barreto, identificou-se com os itabaianenses mais ilustres daquela época, a ponto de se tornar genro de um deles. Constam de seu círculo de amizade na então próspera cidade paraibana, o desembargador Heráclito Cavalcanti, o prefeito Neco Germano, Firmino Cotinha, Padre Fileto, Major Nenéu, os Guarita, os professores Mendonça e José Maciel, a família Ribeiro Coutinho (Dr. Odilon, Dr. Flávio e Ribeirinho), Palu, Jurema Filho, Sotter, Lauro Melo, Zumba Monteiro, dona Candinha Meira de Vasconcelos, Dona Bela Resende, dona Sinhá do Hotel Avenida, a professora dona Marieta e outros nomes da sociedade local.
De Itabaiana, Arthur Coelho foi seduzido pelos mistérios da Amazônia, viajando daí para a América, onde se firma como influente intelectual, depois de muita luta pela subsistência em uma sociedade estranha. “É o mais espantoso fenômeno de aculturação jamais registrado por estudiosos do comportamento humano”, disse Guimarães Barreto. O escritor paraibano José Lins do Rego, comentando a capacidade de renúncia, de sacrifício e de entusiasmo do sapeense em terras americanas, até alcançar seus objetivos, disse num rompante: “Paraibano é danado mesmo!”
Com a auto-afirmação no meio, ao “fazer a América”, o escritor de Sapé ganhou status profissional e casou com uma americana, miss Katharine Rodger, transformando sua casa numa espécie de consulado do Brasil, onde recebia os brasileiros que viajavam à grande metrópole. Passaram por lá Érico Veríssimo, Osvaldo Trigueiro, Assis Chateaubriand e seu amigo íntimo, Monteiro Lobato, que dedicaria ao anfitrião um capítulo inteiro de um dos seus livros da série Dona Benta.
Ele foi um divulgador e entusiasta por tudo que representasse de bom, de nobre, de elogiável na terra e na gente paraibanas. Escreveu inúmeras cartas para os mais destacados políticos e intelectuais de sua época, sobre os mais variados assuntos e questões. Entre seus correspondentes, destacam-se nomes como Monteiro Lobato, José Américo de Almeida, Câmara Cascudo, Gustavo Barroso, Magalhães Júnior, Coriolano de Medeiros, Osias Gomes e inúmeros outros. Esse epistolário encontra-se na biblioteca da Universidade Federal da Paraíba, apresentando-se como um diário pessoal e inestimável repositório literário.