PRIMEIRO TESTE DRIVE CAIPIRA!

TESTE DRIVE Á MODA ANTIGA

Ana Marly de Oliveira Jacobino

A mortadela cortada no balcão espalha o seu aroma pela vizinhança. O cheiro irresistível anuncia o lanche da tarde. O armazém de secos e molhados recém inaugurado, lá pelo ano de 1923, na Rua do Rosário, pela família Pedroso, imigrantes portugueses, a duzentos metros da Estação do Ramal Férreo da Paulista, vai de vento em popa.

Alfredo Pedroso e toda a família trabalham como mouros e, depois de alguns anos, ajuntam uma poupança, e, desse modo, podem comprar o terreno localizado a frente e outro nos fundos do armazém para plantarem algumas frutíferas, construir um galinheiro, e também uma horta.

Certa manhã Alfredo para na frente do armazém montado em um burro ruano, castanho claro.

Mas, não era qualquer burro. Alfredo explica no seu bom português:

_Este é um mamífero solípede, a sua inteligência, vivacidade e beleza é de fazer inveja a qualquer gajo.

_ Ora pois, pois, ó marido para mim, isto é um burro!

_ Não fale assim perto dele. Chame-o pelo nome ó mulher!

_E como é o nome, ó gajo, do tal do bur..., desculpe!

_ Penacho! Seu nome é Penacho!

E assim, logo pela manhã, o português arrea Penacho. A sela feita de couro de búfalo, importado dos Estados Unidos da América, possuí ferragens de metal niquelado de ótima qualidade nos loros, e, látego, também é colocado um reforço de nylon a sela, e já sai óleada as barrigueiras e ainda são colocadas proteção nas argálas.

Penacho desce a Rua Governador Pedro de Toledo numa marcha de fazer inveja a qualquer cavalo ou mula. O burro! Epa...! Penacho tem mais desenvoltura, mais elegância, estilo e nobreza no andamento é de deixar qualquer mortal de queixo caído!

O talzinho é tratado a pão de ló, ou melhor, a forrageira, sal e água fresca, limpa e potável.

Em uma manhã fria de inverno, após chegar com as compras do dia, Alfredo está atrás do balcão, quando um homem bem apessoado entra na mercearia. Conversa vai, conversa vem, o homem sai à porta e vê o burro solto no pasto.

_ Que burro forte, que porte tem o animal.

_O nome do animal é Penacho.

_Será que está à venda?

_Não! Não está!

O tal do viajante oferece um bom dinheiro pelo burro. Os olhos do português arregalam. A cobiça toma conta. Mas, logo olha do outro lado da rua e cai em si.

_Não! Penacho não tem preço.

_Estou disposto a pagar 200 réis em moedas de ouro?

_Duzentos réis? Em Ouro?

O português em todos os seus anos de comércio conta nos dedos os réis de ouro que caíram em suas mãos.

_Vendido!

_Mas, antes de efetuar o negócio preciso dar uma volta no lombo do burro.

_Penacho, Penacho é o nome dele!

_Bom! Preciso ver se ele é tudo isso que aparenta.

_Está bem, ó gajo! Vou colocar os arreios.

Em pouco tempo Penacho ficou pronto. O homem sobe no burro e desce a Governador até sumir de vista. Passadas duas horas da partida, Alfredo agoniado não tira os olhos da rua. O que pode estar acontecendo? Será que o homem se perdeu? Talvez, Penacho tenha empacado!

_ Homem o que tanto olhas! Pergunta, Caetano um freguês antigo, e que já tentara comprar Penacho por mais de uma vez.

O português conta o ocorrido.

_Deves ir a delegacia dar queixa do roubo.

-Roubo? Não me fale uma coisa dessas.

Dia seguinte, sem pregar os olhos, o português desce a rua Governador a pé para conversar com o delegado, e , contar sobre a situação.

Sem dúvida, este é o primeiro teste drive, que se tem notícia na cidade de Piracicaba!