UM ANJO CHAMADO Maria Clara

Você acredita em anjos?

Eis então que lhe apresento Maria Clara; um anjo que passou por aqui!

Ela foi uma verdadeira criança,

Como as que Jesus descreve no evangelho:

- Confiante, alegre, feliz em receber e em dar.

Sabia acolher cada um como realmente era,

com pureza e inocência.

Esse seu jeito de amar

Fazia brotar o lado melhor das pessoas que ela encontrava.

Nunca cansou de sua luta.

Foi até o fim, praticando atos de amor por Jesus em cada um;

Desde buscar um copo de água, abrir a porta do elevador,

Até o tratamento mais difícil, como a quimioterapia – luta maior

pela sobrevivência.

Mostrou com sua vida que a sabedoria não escolhe idade.

É um presente de Deus para aqueles que O seguem

com alegria e simplicidade.

Agora, lá do céu, ela nos ajuda a ser cada vez mais como ela:

- Crianças do evangelho!

(Mariângela Noronha)

Maria Clara sempre fez suas escolhas de amizade optando pelos mais humildes. Jamais a vimos relacionando-se com pessoas de um poder aquisitivo superior ao nosso pela aparência ou por ter alguma coisa que a impressionasse. As pessoas envolviam-se com ela e eram cativadas pela sua personalidade forte e pelo seu carisma, envolto numa inexplicável nuvem de doçura e meiguice. Uma poderosa mistura que transcendia o natural e fazia-nos mergulhar despreocupadamente em seu pequeno, mas intenso mundo. Jamais subjugou ou excluiu alguém de suas relações por ser mais pobre ou mais rica, negra ou branca, adulta ou criança. Suas escolhas aconteciam naturalmente, num clima de confiança e amizade.

Muitas e muitas vezes a pegávamos brincando sozinha, tão envolta em suas fantasias que até pensávamos que os personagens que criava, realmente estavam à sua volta. Pareciam tão reais que se alguém que não a conhecesse, chegasse em casa e a ouvisse brincando em seu quarto, pensaria com certeza, que não estivesse só. E a mais inusitada de suas “amiguinhas virtuais” chamava-se Genária. Sua companheira inseparável de todas as horas. Das mais tristes às mais felizes. Compartilhavam tudo: - As bonecas, as brincadeiras, os sonhos, os choros.

Genária fazia parte de seu mundo, tão naturalmente, que uma certa vez tive a impressão de vê-la. Estávamos em uma pizzaria com toda a família. Havia muita gente entrando e saindo. Depois de alguns minutos a Maria pediu para ir ao banheiro. A fila estava enorme e ela disse que não agüentaria esperar mais. Disfarçadamente fomos até o estacionamento e nos “alojamos” entre os carros. Conversávamos alegremente como fazíamos sempre. De repente, ela soltou um grito e apontando em direção ao nada exclamou: “- Pai! A Genária, pai! Minha amiga está aqui. É a Genária!” Virei-me rapidamente e tive mesmo a impressão de um vulto. Estava um tanto escuro e as luzes dos carros que passavam fora do estacionamento refletiam-se nos vidros. Olhamo-nos por instantes e em silêncio retornamos ao interior da pizzaria. Era como se um segredo houvesse sido desvendado. Nossos olhares se encontravam e ela parecia me dizer: “Era ela, pai, a Genária. Tenho certeza!” Não nos falamos pelo resto noite. O silêncio entre nós era inexplicavelmente profundo e repleto de cumplicidade. Ela, em seu mundo tão particular, exalava certeza em seus olhos. Eu, tentando entendê-la, absorvia na doçura de seu semblante, uma verdade que pertencia somente a ela, em seu impenetrável mundo de criança.

Nos dias que seguiram, um pensamento brotou fortemente em mim e acompanhou-me o tempo todo:

“- Existem mesmo Anjos da Guarda?”

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