PRIMEIRA VEZ NAS ALTURAS

É impressionante como somos capazes de cometer gafes, atrapalhadas ou como se queira rotular, nos momentos que nos deparamos com o desconhecido ou com situações novas!
Geralmente nos conhecemos um pouco mais quando somos colocados frente a frente com momentos, algumas vezes imaginados, ou com aqueles que um dia sequer pensávamos em conhecer! Mas mesmo assim,  insistimos em dar "pitaco" ou opinar sobre qualquer assunto, quer conheçamos ou não!
Recordo-me da primeira vez em que tive que entrar em um avião: estava saindo do Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife, com destino a Belém.
Sempre fui comedido nas palavras e atitudes e as gafes que começarei a narrar foram frutos da ignorância, total falta de conhecimento, e não relacionadas a temperamento ou imprudência.
Pois bem, dirigi-me ao balcão  para o check-in acompanhado de um colega "expert" que havia me conduzido de Garanhuns ao Recife e fiquei somente naquela de "reparar" a movimentação de tudo ao meu redor, enquanto ele tomava as devidas providências. Não entendia nada que acontecia naquele ambiente: pessoas se movimentando de um lado a outro apressadamente; outros que gesticulavam junto ao balcão, indignados; vozes que ecoavam das caixas de sons anunciando procedimentos estranhos e, as vezes, sem nexo para mim. Tudo novo, mas eu fazia de conta que tuuuuuuuuudo já soava familiar e não me deixei impressionar por nada.  A primeira surpresa foi constatar que a minha bagagem excedia em mais de 20 quilos e que deveria pagar pelo excesso!  Sabe como é: marinheiro de primeira viagem, levando de tudo, de roupas inadequadas para a região até uma coleção impregnada de mofo de revistas em quadrinhos do Tex!  Para não alongar tanto a nossa conversa, deixarei de lado os detalhes curiosos das ocorrências havidas desde o balcão até a sala de embarque e me deterei tão somente as trapalhadas no interior da aeronave.  Já fiquei preocupado ao adentrar a nave e fixar os olhos pro teto! subia uma espessa camada de "fumaça" que dissolvia lentamente e se espalhava em toda direção.  Discretamente ensaiei uma "fungada" de leve para sentir se tratava de um princípio de incêndio, enquanto olhava desconfiado para os demais passageiros buscando ver alguma reação similar a minha.  Suspirei aliviado ao descobrir que se tratava do sistema de refrigeração exercendo a sua atividade. Depois de uma luta intensa para descobrir como atar o cinto de segurança, tentei relaxar um pouco enquanto corria os olhos novamente em direção aos passageiros mais próximos, buscando em suas fisionomias um conforto para aquietar o meu coração um tanto apreensivo.  Estava quase conseguindo normalizar a minha ansiedade, quando uma voz feminina escondida em algum lugar na parte frontal começa a dá algumas instruções, enquanto uma outra à sua frente transformava suas palavras em gestos.  E a cada instrução dada eu já começava a questionar se aquela "peste" de meio de transporte realmente era segura.  "-Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente." Mais que depressa lembrei do meu pavor à sensação de sufoco! E o estopim veio quando a infeliz anunciou: "O seu assento é flutuante; em caso de pouso na água..." Vixiiiiii!!!! Só eu sei da agonia que sinto ao passar alguns segundo com a cabeça debaixo do chuveiro!  Sinceramente, essas instruções podem ter o seu valor cientificamente comprovado, mais duvido que alivia o estresse de quem começa a ouvir e meditar atentamente às instruções recebidas!  Bom, vai de lá, vem de cá, e o "bixo" levanta vôo! Meu assento está do ladinho da asa e o barulho da turbina mexe com os nervos o tempo todo. Eu, como sempre, expert em tudo, começo logo a fechar os olhos para me concentrar mais profundamente naquele barulho ensurdecedor, procurando "sentir" se há algo de estranho ou tudo vai bem... ai, ai, ai, ai, aiiiiiiiiii! Mas logo me chama atenção uma aeromoça que educadamente estende sua mão oferecendo-me um lanche: "-O senhor aceita?" E eu respondo na "bucha": "-Quanto que é?" Para então perceber o olhar incrédulo da gentil moça sem entender a minha pergunta... Lá pras tantas, notando a minha inquietação e agonia, a aeromoça pergunta se eu não quero conhecer a cabine, convite aceito mais por educação do que por vontade, pois decidira não sair do assento até chegar ao destino, apesar de que estava precisando sair um pouco, afinal tinha afivelado o cinto de tal forma que já estava sentindo faltar-me o ar e a ligeira sensaçao que estava ficando roxo!  E qual não foi a minha surpresa ao chegar a cabine e encontrar piloto e co-piloto conversando sossegadamente enquanto o avião seguia o seu curso sem nenhuma interferência humana! Aí me desesperei e nem sequer notei a mão do comandante estendida para um cordial cumprimento! "- Pelo amor de Deus!" gritei indignado! "-Segura a "volante" desse "troço!"  Não quero relatar a reação da tripulação. Deixarei à fértil imaginação de cada um de vocês...
Hoje continuo voando, não cometo mais nenhuma situação vexatória.  No entanto, a apreensão e o friozinho na barriga ainda permanecem...
Maurício Pais
Enviado por Maurício Pais em 12/06/2009
Código do texto: T1644613
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