MÃO, CANETA E PAPEL
 
 
         Quero dizer alguma coisa. Será que a alma vai apagando e na hora em que o corpo morre, ela apaga também? Nunca pensara assim, mas hoje esta coisa passa pela cabeça. Mas é uma nova idéia, um ponto de vista. Se não fosse o computador eu perderia a noção do dia e da hora, sem o menor prejuízo de nada. Mas vi, é meio dia. Bom, pelo que ponderei, quando se está assim, é por que a gente não está com a gente, como um estado de alma. Neste dia de paz eu estou sem nada de mim e de mais ninguém.

         Feriadão. E daí?

         Motivação? Quero mais é ir para a rede compartilhar a alegria dos passarinhos ou ir pro computador escrever alguma coisa. Indago se estou perdendo a minha força espiritual. Por que é esta força inteligente da alma que transmite vigor ao corpo. Reflexões não são certezas. São só conjecturas.
       Houve um dia em que não vi. Naquele dia em que “não vi” eu deixei de mencionar uma coisa. Eu não via mesmo, estava insensível. Mas eu pensei muitas vezes na Valéria ali naquela esquina da Glória com a Cândido Mendes. Não via. Sequer olhava pra fora de mim, mas ansiava por ela. E se ela aparecesse de repente? E se a gente se encontrasse? Depois percebi que estava com esperança de que ela aparecesse.

         Desde esse dia eu fiquei menor.

         Flavia, Lia, Raul: será que não foram os responsáveis de você me rejeitar? Antes deles, você já queria viver longe de mim? Ou eles foram meros instrumentos de ganhar coragem de expressão? Você já não gostava de mim? Como  mãe, muitas vezes para seus filhos é uma figura rejeitada, incômoda, suportável só por que ainda não pode dela se desvencilhar, será que apenas essa condição já se desenhava em seu coração e mente? Aquele carinho da infância virou outra coisa. Vivíamos tão bem! Tínhamos tanta alegria de viver! Tanto entrosamento, que não sobrava lugar para tristeza nenhuma: só amor e encantamento mútuo...                                                                     Você me tirou da sua vida! Devo esquecê-la? Ainda a amo como sempre. É. Minha filha Valéria, você é um mistério doloroso e melhor que fique no esquecimento mesmo. Nem tudo a gente tem que compreender. 

        Mas o sofrimento tem seu lado positivo: estou escrevendo, penso em mim e vou escrever um livro, pensar em você dá até uma crônica.   

         Minha alma e cabeça estão livres.