Procura-se uma cabeça

Essa eu vi no jornal. Tudo bem, não era um jornaaaal, era no máximo um Super ou Aqui da vida. Sim, dos bem populares, que pela parca carga de informações que nos passam nem poderiam realmente ser designados como "jornal". Bem, no famigerado caderno de "Anúncios & Bagulhos", 1/16 de folha assim anunciava:

"Procura-se uma cabeça. Feminina. Ela foi vista pela última vez entre os ombros e o céu. Proprietária: desconhecida. Maiores detalhes: desconhecidos. Tendo em vista que só atento para a cabeça, não me importa muito todo o resto. Não posso informar sobre a compleição física geral do objeto de minha busca, por também ser esta desconhecida. Gratifica-se generosamente com um queijo, uma espingarda de chumbinho e substancial soma em dindin".

O mais triste é que eu entendo perfeitamente as maluquices do responsável por tal anúncio. Uma cabeça feminina é raro hoje em dia. Parece que as vemos aos montes, mas na verdade a grande maioria é um oásis, nos promete matar a sede, e ao chegar mais perto vemos que não passa de um monte de areia, cobrindo mais uma porção de areia.

Mostrei o tal anúncio para uma amiga. Ela primeiro fechou a cara, depois deu um sorriso de canto de boca para, enfim, gargalhar gostosamente. "Um absurdo", disse-me. "É...", concordei (não sei com o que). E começou o discurso feminino-feminista: "Este cara só pode estar de gozação mesmo, qualquer pessoa vai morrer de rir disto. Que cara idiota, acho que ele está tripudiando de nossa condição. O livre arbítrio é uma dádiva. Podemos escolher com que nos relacionar livremente, tendo como parâmetro apenas nosso coração e vontade de achar um cara legal, coisa que este sujeito já provou não ser...". E continuou: "Será que ele não entende as mulheres não se importam com nada a não ser que a pessoa seja gentil, inteligente e bem humorado? Certamente se trata de um cara azedo, sem amigos, e, muito provavelmente, horroroso..." (silêncio).

- O que pegas amiga? Algum problema? - pergunto-lhe docemente.

- Você viu aquilo? Era um Mercedes?

- Sim.

- Uau! Olha o gatinho que desceu do carro! - disse, já ajeitando os cabelos.

- Mas, então, continue seu discurso minha cara.

- Agora não. Vou ali e já volto.

E se foi atrás do bonitão do Mercedes. Peguei meu jornal, reli o anúncio, meneei a cabeça, pedi um picolé de graviola para o vendeiro e me atirei na frente do ônibus que passava pela rua. Após o picolé.