Quem vai leva consigo a liberdade da paixão esquecida.

A paixão não é laço fraterno, por isso não invade todos os espaços delicadamente. Ela acontece de forma intensa, intransponível aos todos os mortais, segundo a mitologia grega alguns imortais também sucumbiram, de maneira avassaladora. Parece uma febre queimando o corpo, principalmente, a alma, se é que ela existe nessas horas. Nós transgredimos normas, conceitos, preceitos e regulamentos vários em nome da malfadada paixão resolvida ou mal resolvida. E o final de cada paixão lembra um verso do Nando Reis:

Bem mais que o tempo que nós perdemos.

Ficou pra trás também o que nos juntou.

Entretanto, a paixão, aquela que esgota, destrói, consome e aniquila todos ao nosso redor, essa rima muito com tesão. É um fogo que queima, mas não arde, não dói, só acalma com o objeto da paixão. Transforma-se numa tremenda combustão ou confusão... Na maioria das vezes, converte-se em obsessão, especialmente, quando é uma manchete que diz: marido mata mulher com cinco tiros. Então continuamos a ler as explicações dizendo que foi um crime passional, eram casados há dez anos e a mulher o abandonou... Ao final de cada paixão lembra versos dos Titãs:

Quem espera que a vida.

Seja feita de ilusão.

Pode até ficar maluco.

Ou morrer na solidão

A paixão quando se esvai de um dos lados, deixa odores, sabores dores, saudades, remorsos e arrependimentos, as vezes. Quem vai leva consigo a liberdade da paixão esquecida. Mas, quem sobra do outro, guarda consigo as malditas lembranças que invadem as noites deixando cacos, pedaços em busca do teu rastro. A paixão tira a pontuação deixando os textos sem nexo,assim perdendo a conexão, porém iguala criador e criatura na mesma proporção da dor e dos desvaneios esquecidos ... Ao final de cada paixão lembra os versos do Capital Inicial:

Eu quase posso tocar o silêncio

A casa vazia

Só as coisas que você não quis

Me fazem companhia

Eu fico à vontade com a sua ausência

Eu já me acostumei a esquecer

Isa Piedras

10/06