MULHERES DE IDADE MÉDIA
Um dos mais belos textos sobre a Mulher, que conheço.
(J.B.Xavier)
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MULHERES DE IDADE MÉDIA
Lucilene Machado
Chega uma idade em que vamos recuando, vamos ficando longe da linha de ataque, vamos enterrando os sonhos nas trincheiras, limpando o pó de alguma ternura boba e nos conformando com as migalhas que sobejaram das ilusões.
Chega uma idade em que aprendemos a desistir, esquecer... calar. Vamos nos habituando a conviver com nossas mordaças, nossas amarras... De que vale a liberdade se conhecemos tão pouca gente livre?
Chega uma idade em que vamos escondendo o romantismo nas fronhas dos travesseiros e nos contentando com o prazer efêmero com hora marcada para acontecer. Acomodamo-nos a um gozo mecânico sem a sonoridade dos "eu-te-amo" e dos "para sempre". Aprende-se técnicas, métodos, estratégias racionais capazes de desentranhar a libido e compensar o amargo na boca.
Aos poucos vamos escondendo nossos tentáculos, vamos nos adaptando aos ditames da razão, obedecendo aos assobios, às leis primárias e ficando quietas em nossas menopausas sem mais questionar os "que teria sido se..."
A gente se habitua com um jeito sem jeito de ser conquistada. Um jeito sem festa, sem brindes, sem flores... um jeito prescrito que não esconde grandes surpresas. Falta criatividade e persistência, mas a gente aprende a viver sem o exercício da arte de seduzir e sem os remorsos da carne.
Chega um tempo em que a gente se obriga a compreender a teoria da relatividade, objetividade, contabilidade... tudo tem um preço. Tudo envolve perdas. Que importa? A esta altura, dominamos a arte de perder sem muitas dificuldades. Somos mulheres equilibradas e fortes. Sabemos esconder dores sem precisar disfarçar cansaços.
Nos acostumamos às mentiras puídas e acreditamos nas palavras para não comprometer momentos de ternura. Não porque momentos sejam poucos, mas porque viver é uma arte, a arte de acreditar. A realidade que se acredita é a mais real do mundo. Em nenhum tempo se está preparado para conviver com a franqueza.
Chega uma idade em que descobrimos que podemos perfeitamente viver sem grandes amores. O amor é parte da vida, mas apenas uma parte, e aquela história de ser tão indispensável quanto o ar que se respira é para os compêndios literários. Por mais que a idéia nos desagrade ou nos entristeça, grande parte das pessoas não vive ou não tem um grande amor.
Dia chega em que nos conscientizamos de que vida e morte são fatores biológicos. Independem da nossa participação. Que coragem e covardia têm similaridade. Que a vida jogou conosco. Que nossa história não tem nada de extraordinário, porque todas temos a mesma história para contar.
Histórias que ouvimos femininamente comovidas até morrermos, profundamente desabitadas.
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Mais textos de Lucilene Machado poder ser visitados na secção "Textos Que Seduzem", no site "De Amores e Saudades", da poetisa Fernanda Guimarães, em:
http://www.fernandaguimaraes.com.br/textos_que_seduzem_lucilene.htm