O FUTURO DO CAFEZINHO

Acordei várias vezes durante a noite passada com uma enorme vontade de tomar um café. Logo que levantei, tomei. Enquanto saboreava fiquei pensando sobre a importância dele em nossas vidas. Se não é importância, pelo menos a presença. Presença física, cheirosa, doce, amarga, quente ou fria. Atualmente até combinada com outros sabores diversos aos costumes do nosso paladar. Mas firme e intocável. Intocável? Pois é disso que quero falar.

É muito difícil imaginar o dia-a-dia sem que o cafezinho tenha seu momento de companhia. Seja ao acordar, como fiz hoje, seja ao passar em frente a uma lanchonete ou padaria, seja em um encontro - formal ou não, em eventos de qualquer natureza.

É tão marcante sua presença nas mesas e xícaras dos brasileiros, que mesmo modismos exteriores até conseguiram mudar seu nome, mas não suas funções: integrar pessoas e ao mesmo tempo, marcar um paladar típico brasileiro.

Pausa paciente, leitor – Sobre o modismo, lembro de um caso engraçado em que fazia um curso de qualificação na empresa onde trabalhava e o instrutor, na abertura, distribuiu um folheto com a programação dos dias do curso. Entre atividades, almoço e encerramento havia um coffee-break pela manhã e outro à tarde, durante todos os dias do treinamento. Depois de todos lerem, a guardarem junto ao restante do material, um colega levantou-se e soltou a pergunta: “Espera aí, mestre, nesses dias todos não vamos ter nenhum intervalo para um cafezinho?”

O café para mim é o produto mais brasileiro no sentido de identidade nacional. Do Oiapoque ao Chuí, com bombacha ou jegue, chimarrão, cachaça, suco, feijoada, pizza, umbu ou graviola ou o indefectível pão de queijo daqui de Minas (sem falar da broa de fubá), nada dá mais identidade brasileira que o café. Até para designar encontros, reuniões ou para expressar a hospitalidade, a referência é sempre o infalível cafezinho.

Porém, acredito que essa identidade está correndo sério risco a médio e longo prazo. Por motivos vários, o glorioso, imbatível e insubstituível café está deixando de fazer parte dessas coisas todas de que falei. Mansa e silenciosamente.

Como todos somos de tudo um pouquinho, vai aqui o resultado de meu lado pesquisador e estatístico. Sou de família de nove irmãos, cada qual com média de 2 filhos. Dos nossos filhos e sobrinhos, nem a metade toma café regularmente. Alguns nunca e outros sequer conhecem o sabor. Assim, conversando com outras pessoas, também pude constatar que a tradição não vem sendo mantida e isso é preocupante. Economicamente não é tão problemático, pois sua ausência pode ser compensada por outra produção. O negócio é saber se vai garantir a identidade. Isso sim, me preocupa, num mundo cada vez mais despreocupado com esses elos tão caros aos seres humanos, apesar de parecerem insignificantes. Reúna a qualquer hora amigos, colegas de trabalho ou familiares (em torno de um cafezinho, claro) e pesquise se não é fato.

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josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 10/06/2009
Reeditado em 10/06/2009
Código do texto: T1641179