roupas e alfinetes

Outro dia eu estava assistindo TV (melhor dizendo eu estava mesmo era olhando a TV) quando me deparei com um curioso programa: as pessoas comuns exibiam as suas roupas para um famoso (?) costureiro (?) que fazia críticas muitas vezes malcriadas aos felizardos candidatos a sei lá o que. Acho que não é o único programa que aposta nesse tipo de idéias, deve ter outros. O que me intriga não é exatamente o que eles fazem ou não fazem na TV - já deixei de se preocupar com isso há tempos - mas sim a complacência com que as pessoas aceitam tal tipo de coisa. Sim, porque provavelmente quem gosta desse tipo de programa deve levar a sério todas aquelas alfinetadas.

É como se todo mundo estivesse sendo vigiado ao mesmo tempo e qualquer deslize no vestuário, lá vem bomba. De repente, de tanto medo de serem criticados, alguns resolvem sair de casa usando só cores básicas, como o preto e o branco. Assim em breve poderemos ter um exército em preto e branco andando pelas ruas. Todos impecáveis, a prova de qualquer zombaria. Sim porque os ditames culturais pós-modernos colocam o zombador como uma espécie de Deus ao qual todos devemos temer para assim ficarmos "bem na fita" vamos dizer assim.

Outro dia eu li um texto da Mille Farath aqui do recanto das letras em que ela narra uma desavença com uma amiga que criticou sua mini-saia e maquiagem colorida e passei a concordar com ela quando diz que falta ousadia no mundo de hoje. Ela falava mais do mundo feminino, mas no mundo masculino a coisa também não é diferente. Falta perder o medo de ser original, de extravasar, fugir da mesmice. Que há de mal em colorir roupas?

Para mim o que essa gente merecia ouvir mesmo, quando esparramasse suas alfinetadas seriam aquelas palavras que eu adorava dizer quando me aborreciam na adolescência: Tô nem ai.