MARIA

Maria secou os pés e calmamente pisou no tapete da sala. Havia nela uma sensualidade de gestos que o irritou. E o excitou.

Percebeu, não sem dor, que ultimamente os dois sentimentos andavam juntos, pelo menos, sempre que se relacionava a Maria. Ela o excitava com seus gestos, com seu olhar, sua voz, sua languidez... e isso o irritava.

Desviou o olhar e pela persiana entreaberta pode divisar a torre da Igreja matriz,

Uma lembrança distante perpassou sua mente...sua mãe, sua doce mãe falando da paz que a Igreja proporcionava...tentou vestir essa paz, apaziguar seus sentimentos....

Inútil, sua mente estava ocupada, melhor, transbordava, de Maria. Maria dormindo, lendo , tomando banho, comendo ...aceitando passivamente suas carícias.

Pensou na ironia da situação, ele transbordava Maria e Maria estava ausente. Sua presença, algo sutil, mal se percebia. Ela não corria, mal falava, não pulava, não gritava, não aplaudia ... Só vivia, do seu jeito, a seu modo. Alheia a tudo e a todos. Alheia a ele.

Repentinamente essa idéia, essa certeza tão nova quanto antiga, voltou a machucar.

Sentiu necessidade de sair, fugir dali. Olhou-a longamente, sorriu e saiu para caminhar na Marechal, pensando nas muitas marias que existiam e na sua escolha.

Foi quando percebeu, não sem dor, que já não tinha escolha, ela era a SUA Maria.

Ana Janete
Enviado por Ana Janete em 09/06/2009
Código do texto: T1640549
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