ALUNO RECONHECIDO, PROFESSOR MANIPULATÓRIO
Claudeci Ferreira de Andrade
Não há dúvida de que as autoridades políticas possuam mecanismo que promova o reconhecimento devido ao profissional da educação e que elas desejam torná-lo disponível.
Mas, nem sempre está claro como esse reconhecimento se torna nosso. Você já notou a maneira em que costumeiramente reivindicamos o reconhecimento? Rogamos: — “Aumentem o nosso salário”! “Diminuam nossa carga horária”! Mas, o que estamos supondo? É o reconhecimento “aspergido” de cima para baixo como estamos acostumados a engolir as outras resoluções e decretos mil. Implantariam as autoridades políticas para este reconhecimento em forma de um aumento salarial à categoria do magistério tão prontamente como aumentariam os seus próprios salários? É nossa profissão mais árdua se não pedirmos esse reconhecimento?
Talvez fosse mais apropriado se começássemos fazendo movimentos grevistas, pedindo mais trabalho, pois é sempre assim, quando ganhamos um adicional no salário, vem junto, mais trabalho e um aumento na parcela da previdência. Poderíamos afirmar a estes chefes, com essa atitude irônica, que estamos dispostos a ser lembrados mesmo a preço de “banana”.
Há três abordagens gerais à pergunta sobre como obtemos o reconhecimento da sociedade. Elas podem ser sumarizadas deste modo: Primeiro, o reconhecimento é merecido, os governantes são obrigados a no-lo dar por causa de nossa utilidade social; segundo, o reconhecimento é conseguido com agrado ou lisonja, as autoridades são induzidas por nossa mendicância e terceiro, o reconhecimento é inerente, as autoridades políticas são sábias, bem preparadas academicamente a ponto de ver o futuro da educação.
A maior parte de nossas greves e petições por reconhecimento cai na segunda categoria. Supomos que nossos chefes retêm todos os mecanismos promovedores do nosso reconhecimento e que eles arbitrariamente dispensam àqueles com quem estão satisfeitos (como o Papai Noel das grandes casas comerciais doam bombons às crianças). Naturalmente, o outro lada desta ideia é que eles também podem se utilizar de maldições e despejar algumas delas sobre aqueles com quem estão descontentes (perseguição).
Segundo um ou outro raciocínio, os nossos chefes usam seus recursos a fim de manipular-nos. Votando e aplaudindo um governo manipulador nos tornamos como resultado: manipulatórios. Que tal se a rebeldia, a irreverência e a indisciplina de nossos alunos nos manipulassem, também, para com os nossos chefes. Talvez quem sabe, teríamos o reconhecimento que eles têm, advindo das providências dos governantes em sua sede de erradicar o analfabetismo (gratificações, livros, merenda, transporte escolar, kit uniforme, vale cesta básica, salário escola etc.). Consequentimente, o reconhecimento não é o ato de um governo arbitrário! O aluno é importante, o professor não?!