ACHO QUE SE CONFUNDIU...
Ser confundido com alguém é uma reação completamente comum, podendo acontecer com qualquer pessoa e em qualquer lugar.
A situação só torna-se embaraçosa quando tentamos achar algum sentido no que a outra pessoa está falando a nosso respeito. E foi exatamente isso o que tentei fazer quando esse tipo de “probleminha” me ocorreu.
Na segunda feira passada às sete horas da noite, encontrava-me dentro de um ônibus dirigindo-me a faculdade, como de costume atrasado, onde estudo já por dois semestres. Estava com a mente vagante, sem dar atenção às imagens que surgiam dentro e fora do veiculo.
Eis que se achega ao meu lado um senhor de aproximadamente trinta e cinco anos segurando um guarda-chuva e algumas sacolas com itens de acessórios para carro. Olhando-me como se me conhecesse perguntou:
_E ai rapaz, como vai a vida? Conseguiu passar naquele concurso publico?
Olhei fixamente para o homem que me indagava, tentando lembrar a sua fisionomia e ao mesmo tempo de qual concurso o cidadão se referia, visto já ter feito alguns. Depois de certo esforço, recordei-me de uma prova para um concurso que fiz há uns dois anos atrás, então respondi:
_ Não, não conseguir ficar entre os primeiros.
Diferente de mim, o homem achava a conversa completamente apropriada, pois para ele eu era alguém familiar. E como a teimosia era o meu mais presente vício, não deixei de tentar reconhecer aquela pessoa, por isso o dialogo tortuoso prosseguia:
_Cara, tu acreditas que até um dia desses, eu tava lembrando aquela festa de fim de ano que tu fizeste, foi hilário, tu não acha?
Enquanto ele proferia esse tema incrivelmente escabroso sobre alguma situação do passado, meu cérebro se ocupava em uma tarefa bastante complexa tendo em vista a ótica paradoxal da questão. Eu estava tentando, sem sucesso, lembrar qual seria o possível nome daquele sujeito que conversava comigo sem saber a guerra que eu travava para reconhecê-lo. Tudo em vão; nem as mais antigas lembranças da minha egocêntrica adolescência me trouxeram a luz do que eu procurava. Porém, estava determinado em desvendar essa incógnita que se apresentava sem procurar fazer, o que já deveria ter sido feito desde o início, indagações sobre o jovem senhor, não estava disposto a consolar suas frustrações se caso não nos conhecêssemos realmente.
O interlocutor ao meu lado continuava sem a menor sensação de que poderia estar enganado em relação a me conhecer e continuou a perguntar-me varias coisas, e a esclarecer-me muitas coisas como:
_ pois é meu camarada, troquei de carro, aposentei aquele meu fusca no ferro velho, já era hora, agora to com uma Marajó que é uma beleza, ta precisando de uns reparos e tal, mais se Deus quiser e Nossa Senhora permitir vai ficar um brinco.
Acreditando eu que nesse momento crucial da conversa onde as pistas eram dadas, como a revelação de um veiculo sendo trocado por outro, pudesse dar como solucionada toda a empreitada que se criou no decorrer da viagem. E para aminha surpresa nada me veio a lembrança de forma concreta, carros populares existem por toda a parte, só o que pude responder foi:
_Bom pra você.
À medida que homem discursava para mim, informando-me seus oriundos pensamentos e causos cotidianos em alguns momentos até me incluindo em tais acontecimentos, perguntava-me intimamente o que estará acontecendo comigo? Estaria eu com algum problema de memória? Não recordava de alguém na família apresentando tal sintoma patológico e por alguns momentos fiquei preocupado com minha saúde mental.
E o cidadão familiar e ao mesmo tempo desconhecido continuava:
_ Ontem vi seu pai, ele parou de fumar? Como ele conseguiu? Venho tentando há anos, mas nuca tive forças de larga mesmo. É um vicio horrível, gastamos dinheiro com fumaça vê se pode, é realmente burrice continuar fumando é como se você pegasse seu dinheiro e rasgasse. Sabia que cada cigarro que você consome por dia multiplicado por um ano é o que vale a...
_ Tenho que ir. Respondi a ele sem poder dar mais atenção a essa prosa desprovida de sentido, apesar de o meu pai ter parado de fumar realmente e também de ser um erro continuar fumando. O que não me interessava era a contabilidade de um fumante.
Chegado o meu destino, levantei-me do assento, fiz o sinal de parada e me dirigindo a porta de saída, o homem acenou com as mãos exclamando:
_Mande lembranças ao seu avô, diga que outro dia troco um “teko” de conversa com ele, até mais Alfredo, passar bem!
Depois dessa despedida indecorosa e ratificada em publico, convenci-me da verdade, de que nunca havia conhecido aquela pessoa, ela havia me confundido com alguém.