DESTINO, FADO,SORTE...
“A  vida,seria um espetáculo belíssimo se pudéssemos contemplá-la fora dela.”(Vargas Villa)
Talvez,como o guri da música de Chico,tivesse rebentado quando ainda não era tempo de rebentar;com dias de nascido foi entregue á rua,para adoção.A rua é mãe carinhosa,acolhe a todos;mas,não é dedicada ou cuidadosa,os deixa ao deus-dará.
Logo,levado a uma instituição,sem ter ainda conhecimento do mundo,ficou mofando entre milhares de bebês,esperando quem o quisesse.A Fada Sorte agiu a seu favor;um casal de italianos o adotou,tirando-o da miséria dos orfanatos e da violência para um tranqüilo recanto na Itália,mais precisamente em Ortisei,adotado por um casal de italianos,interessados nas trágicas vidas das crianças do Terceiro Mundo;logo,adotaram mais duas e começaram a formar uma família.
Na casa da professora Alberta Kostner e do seu marido,Léo Martiner ,o garoto Georg,gerado e nascido nas ruas da mágica Salvador,enfim encontrou a paz e a estabilidade que uma criança merece ter.Brincava feliz,com seus irmãos Markus e Thomas,também adotados.Lá, no norte da Itália,correu pelas ruas,foi á escola,cresceu,tornou-se um belo jovem,mas,trazia consigo a inquietação e o desejo de conhecer a terra onde nasceu.
Estudar não era muito o seu desejo;parou aos 14 anos,depois da morte de Léo,vítima de leucemia.Começava os cursos,mas,não terminava,narra a mãe adotiva.
Ao completar 18 anos,graças á herança recebida do pai,declarou-se independente.O mundo era seu.
Espírito inquieto,estudou moda,produção de filmes,mudou-se para Viena,praticava snowboard no inverno e freqüentava as praias,no verão.Mas,o desejo de conhecer sua terra não o abandonava;aos 25 anos,ganhou a viagem,presente de aniversário.Passou três semanas no Brasil,conheceu Fortaleza, onde comemorou o aniversário com amigos vienenses,namorou no Rio,e caiu na gandaia em Salvador;quem sabe,observava  os belos rostos negros e amadurecidos que passavam por ele,imaginando se,um deles,seria de sua mãe biológica.
Tudo maravilhoso,tudo no seu lugar até que embarcou no dia 31 de maio,no vôo 447,da Air France.
Destino,fado,sorte...Escapou de ser um trombadinha,de morrer de bala nas ruas da cidade,escapou da fome e da angustia da solidão.Morreu no mar,que Caymmi dizia ser uma morte doce,mas,não acredito.
Sua mãe adotiva não vem reconhecer o corpo;como descobrir,se o exame de DNA não pode ser feito,pois não há parentes de sangue para comparar;quer dizer,haverá,mas,como achá-los!?
Georg era um belo jovem.Como muitas outras almas,foi colhido muito cedo pela fatalidade.
De quem foi a culpa,como realmente saber?
Os fados,o destino,o olho cego que vagueia procurando  por um,Sobrenatural de Almeida,Deus, a Air France,as CB(cumulo-nimbus) a quem cobrar esta conta?
Pessoalmente,acho que ninguém deveria morrer num domingo,viajando para Paris;esta cidade não rima com dor e sofrimento.
Mas,meu apito é surdo.E meu desejo,ilusão.
A ilusão é a janela aberta no muro negro da vida;é por ela que entra um leve raio de azul do Infinito até nossos corações.Nada mais que isto!A vida é uma marcha de vencidos até a derrota final;o interessante é o que se passa no intervalo entre a chegada e a partida.
 Soube que a Air France trocou o número do vôo;nossa,até parece a piada do marido enganado que trocou o sofá!
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 09/06/2009
Código do texto: T1640049
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