Conversa de bar
Eu, Penca Preta e Sanderly tomando umas lapadas no cabaré das Malvinas, aparece um cara chamado Rei, poeta de profissão e vagabundo por excelência. Sanderly foi logo apresentando:
--- Esse aqui é o Rei que já foi muambeiro, jogador de futebol e agora vai ser beque no “poesia futebol clube”. Cismou que é poeta.
--- Muito prazer.
--- Prazer é meu, companheiro.
Apertamos as mãos. O Rei sentou, pediu uma lapada. Peguei logo a falar.
--- Sabe, Rei?
O Rei não sabia mas ficou sabendo que eu já tinha escrito poesia em jornal e agora ia botar num livro a vida de todo vagabundo e mulher da vida que tivesse notícia em Itabaiana e outro lugares menos votados.
--- Não é, Penca Preta?
Penca Preta fez que sim com a cabeça, e como já tava mais pra lá do que pra cá, ferrou no sono enquanto eu ia contando uma história comprida de miserê, que acabou mais ou menos assim:
--- Você é poeta por ser vagabundo ou é vagabundo por ser poeta? A resposta depende muito de quem faz a pergunta. Do ponto de vista ético, todo poeta é vagabundo, e do ponto de vista estético, todo vagabundo é poeta. Ora, se entre poeta e vagabundo a distância é milimínima, o mesmo não acontece entre vagabundo e malandro. O vagabundo é sempre um idealista. Há entre os dois a diferença quilométrica que há entre um drible de Pelé e um chutão de Dunga. O Rei não tava “pescando” nada, e já ia pedir pra trocar aquilo em miúdo quando Sanderly disse:
--- Quando ele começa a falar difícil é porque já ta bebinho da silva.