A casa
A casa
Mª Gomes de Almeida
Ela casou-se muito jovem e quando eu era ainda muito criança.
Casou-se e foi morar numa fazenda que meu cunhado herdaria mais tarde do seu pai.
Era lá que eu passava todas as férias da minha infância, saltitava de alegria quando recebia a notícia que era chegada as férias.
Lá eu vivia aventuras que só ali aconteceria,
Andava a cavalo. Caia do cavalo. Sorriam de mim.
Via cobras, corria da cobras.
Ficava tão próximo das vacas, cachorros, gatos, galinhas, porcos, cavalos.
A primeira experiência de depenar e cortar um frango foi lá que tive.
Esqueci o papo do bicho.
Motivo de gozações por muitos dias.
As melhores pamonhas da minha vida foi lá que comi.
As melhores goiabas, cajus do serrado, marmelos, foi lá que colhi.
Os pés de buritis mais lindos e frondosos foi lá que vi.
Carinho nunca antes nem depois experimentado.
O serrado daquela região, o cheiro do mato, o cheiro do capim molhado pelo orvalho da madrugada.
O rádio ligado, o perfume do café.
O cheiro da vaca, o berro dos bezerros apartados de suas mães.
O leite no curral.
O córrego, o banho, o medo.
E a comida feita no fogão a lenha?
A família da minha irmã ainda mora no mesmo lugar. Muita coisa continua como antes. Muita coisa mudou.
O rádio se liga muito pouco, a televisão com a parabólica o substituiu.
Seus filhos crescidos, uns foram, outros não.
São seus netos que hoje vivenciam o que eu já vivi com seus filhos.
Meus filhos já foram lá várias vezes, apesar de moramos muito longe agora. Muita coisa tentei contar para eles, mas a experiência não se passa para ninguém a gente apenas a compartilha, e a minha foi inesquecível.
A minha infância foi infinitamente melhor e mais prazerosas que a dos meus filhos.
Eles não passaram suas férias na casa da minha irmã.