Doidinha - a jovem aprendiz
Doidinha - a jovem aprendiz
Quando Doidinha chegou para ocupar a vaga de jovem aprendiz no setor, dona dos seus viçosos 17 anos, já havia chegado antes dela a ficha, com sua vida pregressa. A gerente a recebeu desanimada e, muita gente partiu para o velho esporte de marcar os dias de presença na folhinha.
Mas, não demorou muito e, Doidinha fez amizades com a galera do Estágio, que tinha amizade com a gente - logo, estava completamente enturmada e se mostrava muito desinibida. As mancadas que dava eram federais - o que, fazia a nossa alegria e, ela por sua vez, fazia com alegria o trabalho que lhe passavam.
Certo dia, a gerente precisava falar com urgência com o Presidente, mas o sistema telefônico tinha dado pane. No sufoco, Doidinha ligou do próprio celular para a sala do homem e falou com a sua secretária, bem assim:
- Alô, fulana? Olha, a Chefe aqui precisa falar ur-gen-te com o Dr, viu, bem? E desligou.
Passada meia hora, ela já estava fora da sala, perto do portão de saída, quando o celular tocou. Ela atendeu. Era o Presidente, que disse: "Olha, estou retornando a ligação para a dona desse celular aí, que não disse de que área era. ? Quem fala?..." Ela embranqueceu e desligou o celular correndo, apavorada. Num outro dia, foi mandada para a sala de um diretor, para pegar assinaturas nuns documentos.
A secretária a mandou levar os documentos direto na mesa do homem, onde ele estava entretido em assinar um monte de coisas. Ela não perdeu tempo e sentenciou: "Nossa!, o senhor fica aí parado o tempo todo, só assinando documento? Olha, a Chefe disse que isso aqui é ur-gen-te e, ela não pode esperar..." O diretor a fitou, depois riu e, assinou logo os documentos que ela levara, evitando ouvir outra daquelas tiradas atrevidas...
O tempo foi passando e, ela foi ficando muito, muito folgada. Como ela era chegava sempre antes da hora de entrada, se aboletava na mesa de alguém, abria o computador e ia direto para os sites de gossips e fuleiragens - entrementes, ia enchendo o hd dos PCs - o meu, incluído, de música americana (Pink, Fergie e Beioncée, eram três nomes que não saiam de sua boca...).
Gostava de ficar conferindo a chegada dos profissionais da área, de manhã. Quando alguém chegava um minutinho atrasado e, tentava passar disfarçado ao lado da mesa da chefona, ela fazia questão de cumprimentar: "boa tardeeee, fulano. Tudo bem?" O flagrado queria sumir da face da terra naquele instante, não sem antes, esganar uma certa jovem aprendiz...
Ela se afeiçoou rapidamente a todo mundo na sala - e, o contrário, também aconteceu. Não tinha festa para a qual não fosse chamada, em todas as divisões do setor. Em ocasiões assim, vinha a caráter, como uma espécie de Carmem Miranda atualizada.
Faltando pouco tempo para vencer o seu período de trabalho, que coincidia, naturalmente, com a chegada aos 18 anos, começou a papaguear que queria uma festa de despedida só para ela, com torta de chocolate, música e tudo o mais e, na nossa divisão.
De sacanagem, começamos a zoar com ela: "Xiiii! Chegou sua hora de receber o bilhetinho azul e dar sossego pra gente!" E ela rebatia: "Voces é que vão cho-rar de saudades de mim, bem!"
Os dias passaram rápido. Uma colega assumiu a organização da festa - colheu o dinheiro da "vaquinha", comprou os doces e salgados e tudo o mais.
O dia da festa de despedida chegou. Foi incrível. Compareceram todos os colegas, estagiários e jovens aprendizes do setor, divisão por divisão. Só eu, não não fui, já que não consegui escapar de uma reunião com uma comissão de não-sei-o-que (santo Deus!, livrai-me das comissões, juntas, turmas, equipes e coisas do tipo...). Foi todo mundo. Discurso. E ela já começou assim: "Olha gente, todo mundo sabe que eu sou assim, regaçada, mesmoooo e..." Gargalhada total.
Na hora de sair, surpresa. Havia ido até a sala do Presidente e, pedido uma audiência com ele, ocasião em que solicitara a chance de voltar como estagiária... de Direito (sim, senhor!), após o vestibular que, ela, não tinha dúvidas, ia faturar.
Os detalhes da visita ao chefão, nós só sabemos agora. Foi assim: chegou à Secretaria e disse que precisava falar com o Dr., ur-gen-te. A secretária a levou ao assessor do homem, temerosa do que pudesse acontecer na ante-sala. Ao assessor, Doidinha disse: "Olha, eu estou indo embora e vim me despedir do Dr. Mas, só pode ser ho-je, viu?" O assessor riu, desconversou, mas diante da insistência a a colocou na sala do chefe, seguindo-a nos calcanhares. Dentro da sala, disse ao Presidente que estava indo embora e, que tinha ido lá, dar um abraço nele. Depois do abraço, ela fez o pedido, virou as costas e, foi embora. O homem comentou com o assessor, amarelo e desconcertado: "Ela é doidinha, né?"
Doidinha se foi, pela manhã. Eu herdei o acervo seu acervo de Mp3 que ela deixou no PC da mesa ao lado (onde tem uns roquinhos nacionais que gosto).
Mas, não duvido que ela volte, de jeito algum, dizendo: "Agora sou es-tá-gi-á-ria, bem! Cadê a minha mesa?"
(jovem cidadão, jovem aprendiz, Pró-Cerrado, doidinha, simpatia, Goiânia, GYN)