Bunda também é cultura
Num sítio na internet começaram uma discussão sobre bundas. Vejam bem, o mundo se acabando, os aviões caindo, um meteoro viajando em direção à terra e os caras falando em bundas, preocupando-se com esse negócio tão pueril, a chamada preferência nacional. Sim, porque dizem que brasileiro é vidrado em bunda, mas não é só o patrício que tem essa obsessão.
O escritor norte-americano Henry Miller foi um sujeito que explorou o sexo em todos os seus contextos, inclusive filosóficos. Teve suas obras proibidas em vários países, sua literatura considerada maldita. No livro chamado Sexus, ele escreveu: “A bunda nos revela tudo sobre uma mulher: seu caráter, seu temperamento, seja ela sanguínea, mórbida, alegre ou volúvel, seja receptiva ou não, maternal ou amante dos prazeres, seja ela franca ou mentirosa por natureza.” Por aí se vê que o cara entendia mesmo de bunda. Seria um dos que, em vez da cara, dão a bunda pra bater.
Mas isso é coisa cultural. Em Samoa, uma ilha do Pacífico Sul, o bumbum perde feio para o umbigo, considerado um lugar altamente excitante. Embora as moças caminhem quase nuas por lá, essa parte do corpo é mantida sempre coberta. Outro lugar onde o bumbum nem é notado fica em outra ilha, a Célebes, na Indonésia. Lá o joelho é que é um importante fator de atração sexual. Na tribo dos Nilotes, no leste da África, as banguelas são as mais atraentes. Quando chegam na puberdade, as jovens arrancam dois dentes da frente e ficam se achando o máximo.
Outro dia me apresentaram uma charada: o que é um bunda-mole com banda larga? Eu não sabia, mas se trata daqueles caras que gostam de incrementar seus carrinhos, botam um somzão na mala e saem por aí aporrinhando a humanidade. No Brasil, a pior crítica que se pode fazer a uma cantora de MPB é dizer que se trata apenas de uma “bunda rebolativa.” Rebolando no imaginário masculino, tivemos grandes artistas do naipe de Gretchen, aquela que já está com cinquentinha mas se nega a passar a coroa de Rainha do Bumbum. Seus quadris fizeram o Brasil inteiro gemer ao som de seus melôs infames, no requebrado da mediocridade geral.
Etimologicamente, bunda provêm da palavra mbunda (palavra pertencente a um grupo étnico da região oeste de Angola - kimbundu). Então mbunda originou a palavra bunda, objeto desta profunda reflexão, que significa nádegas. Segundo a bundologia, ciência que estuda as bundas, há casos típicos de algumas asiáticas que quase não se nota a existência da dita cuja. Como quem vê bunda ignora coração e quem tem bunda facilmente desbunda, em alguns países deste planeta, estranhamente as mulheres passaram a admirar bundas masculinas. Que impropriedade!
Os coquistas pernambucanos Caju e Castanha levaram um pé na bunda em seu Estado natal e foram vender seu peixe em São Paulo, onde se deram bem, ficando conhecidos em todo país pelos cocos humorísticos. Em um deles, falam sobre “o poder que a bunda tem.” Na batida do ganzá, encerro este besteirol com uns versos dos poetas populares:
Mulher batida sem bunda
é a maior negação.
Busto pequeno e magrela
não tem a mínima atração.
Mulher que tem bunda cheia
ainda que seja feia,
a bunda chama atenção.
Mulher magrela é difícil
de arranjar um marido,
mas se casar ele diz:
eu estou arrependido
com essa cruz que carrego,
eu estava doido e cego
de casar com pau vestido.