ONTEM EU CHOREI.
Passamos muito tempo... tempo... tempo mesmo sem chorar de verdade. Eu só choro se for de verdade; se tiver algo de muito importante pra ser sentido.
A primeira vez em que me vi chorando foi há muito: chorei porque estava errado, porque sentia em mim o peso dos próprios ombros cúmplices, e o pior, precisei de ajuda pra enxergar aquilo, e aceitei. Naquela oportunidade chorei com prazer... já ouviu alguém dizer que sente prazer em chorar?
Foi renovador sentir que em mim havia sensibilidade, e que por mais que as rígidas faces do egoísmo humano se sobreponham nas maiorias individuais, quando se chora, se admite a própria fragilidade em ser apenas um ser... Ontem eu chorei novamente, e não senti nada mais além de coragem, sensação de liberdade imensurável e afago de mim mesmo... não é insensatez! ser pra dentro é ser profundamente liberto; liberto de si mesmo. Ontem eu chorei, mas não foi por nada que esteja me definhando, não vejo em mim sangrar as dúvidas que em outras madrugadas me mantiveram acordado , não nesse momento. Não chorei por desamor, por assistir Titanic, ausência de amparo ou solidão; não sentí vontade de sorrir, brincar de ser criança ou beijar minha prima da infância; chorei antes por estar vivo, cheio de sentimentos avassaladores de contemplação... estou leve, íntegro, des-coberto, chorando pra felicitar minhas desataduras... Fechar os olhos e sentir o tempo entrando e saindo da mente com mil pergaminhos de caminhos...chorar de verdade é a melhor maneira de sentir os olhos do mundo sorrindo pra si; sorrindo com o aval de quem aprovou seus erros com a tranqüilidade presente nos primeiras flores da primavera.
Ontem eu chorei por sentimentos milagrosos, e as lágrimas de alegria presentes naqueles instantes invadiram de força a minha vontade de viver...
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