O rosto dele e ele.

O rosto dele não é uma ilustração dos seus sentimentos. Parece que ele não gosta de se deixar sentir nada, não quer deixar transparecer nenhum interesse nunca; e faz isso sem o menor esforço.

Ele tem lábios nem muito finos, nem carnudos demais. Quando sorri, o superior se reduz e dá espaço pro meu sorriso.

De todo o rosto, o que há de menos implícito nele são os olhos. E assim mesmo são forrados, cobertos de mistério e quase sempre encolhidos; quase sempre silenciosos. Minha intuição diz que ele mora por completo ali, dentro deles, e mal sabe o porquê disso.

É como se ele fosse capaz de ler cada pessoa; como um narrador onisciente. E, ao fazer isso, indiretamente me intima a tirar mil análises e interpretações de seus gestos e características.

Pra mim,o rosto dele e ele estão distantes de todos os planos, entendimentos e conclusões. Não podem ser evidências, mas também não podem ser anulados. São sonhos duplamente impossíveis.

O rosto dele e ele, pra mim, é todo um par de olhos sem coração.

Fernanda Luchiari
Enviado por Fernanda Luchiari em 07/06/2009
Reeditado em 06/01/2011
Código do texto: T1636926
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