Deve ser Amor

   Sete dias. Sete dias para o dia dos namorados. E eu estou aqui, sozinho. Mas não pensem que eu ligo não. Eu ligava. E muito. Mas com o tempo eu parei de correr atrás de pessoas para passarem esta data comigo. A meu ver, o dia doze de junho foi criado pelos gângsteres do comércio para ganhar um pouco mais de dinheiro.
   Eu já tive muitas oportunidades de passar o dia dos namorados acompanhado. Já me apaixonei várias vezes e já até namorei diversas vezes também. Mas nunca dava certo. E juro por Deus que a culpa não era minha. Nem delas. Na verdade as coisas iam esfriando e daí acabava. Muito estranho.
   Esse lance de se apaixonar é complicado. Se apaixonar é fácil, mas manter essa paixão são outros mil e quinhentos. Aquela dor no estômago. Aquele friozinho misturado com ansiedade. Aquilo tudo é tão mágico, tão maravilhoso, mas muito complicado. Você pode ser loucamente apaixonado por uma pessoa e este amor ser platônico. E uma pessoa pode ser completamente apaixonada por você e você simplesmente ignorar esse fato por não haver a menor química entre os dois. Não sei se o mais complicado é amar ou ser amado.
   Eu já amei. E sei como é ser imensuravelmente amado. E ainda não sei qual a pior das hipóteses. Nunca passei um dia dos namorados namorando. Por alguma lei do universo, as forças sempre conspiram para que meus relacionamentos acabem antes mesmo da tal data. As vezes tento até comemorar esse dia na versão americana, pois lá eles comemoram o dia dos namorados em fevereiro. Mas não ligo mais.
   As vezes pintam relacionamentos. Porém nada que me faça querer ver a outra pessoa durante os sete dias da semana. Não sei se esqueci como é namorar, só sei que simplesmente não consigo mais. Minha mãe perguntou se tenho medo de terminar sozinho. Na real? Até que tenho. Mas sei que não preciso correr. Já fiquei dois anos sem beijar na boca. Um e meio sem fazer sexo, e nem por isso tive crises alucinatórias. É bom ter alguém do seu lado, principalmente nos dias frios. Mas não vou morrer. Não vou me sentir feio por não conseguir namoradas. Por não conseguir “pegar” mulher nas noitadas.
   Eu tenho uma teoria que se aplica aos meus colegas. A maioria deles se exercita na academia. Malham incessantemente dias e dias, procurando abdômens definidos, bíceps bem moldados e pernas saradas. Em troca, querem que as mulheres caiam aos seus pés. Aí o que eles fazem? Saem pelas noites e ficam na expectativas de pegar o maior números de fêmeas possíveis. Resultado: não pegam ninguém e saem desolados, murchinhos e se achando as criaturas mais feias do mundo. Do que adianta? Eu não sou de sair de noite, sou tranqüilo. Mas quando saio, aprendi que é essa expectativa que nos faz mal. É ela que, quando não correspondida, acaba com nossa auto-estima. Eu decidi não sair com esse intuito. Saio pra me divertir, conhecer mulheres seria a conseqüência.
   Sete dias para a data dos apaixonados. Dois anos que não sei o que é isso. Dois anos que não fico ao lado do telefone esperando telefonemas delas. Tanto tempo. Tanto tempo que acho que me tornei auto-suficiente. Não estou procurando. Talvez devesse. Deve ser aquele lance do Maomé e da montanha. Pode ser que seja uma coisa que dependa de mim. Preciso que me conheçam. Em casa, no computador e jogando jogos on lines com pessoas de outras nacionalidades pode não ser uma maneira sadia de conhecer pessoas. O objetivo nesses jogos não é se relacionar, mas sim destruirmos uns aos outros.
   Não quero sair atrás de alguém. Não me sinto capaz,sabe? Não tenho muito assunto e minha timidez pode ser meu declínio na tentativa de vida amorosa. Minhas outras namoradas eram todas amigas minhas. Talvez por isso não tenha dado tão certo. Acho que se duas pessoas se juntam e namoram deve ser amor. Deve ser por amor. Não por amizade ou consideração. Minha mãe acha que alguma amiga minha machucou meu coração, e por isso eu tenha me auto boicotado. Não sei não. Ela às vezes fala umas coisas que me fazem pensar. Que me deixam confuso. Ela me fez lembrar da Clara. Éramos muito amigos e nos conhecemos pela internet. Amor mesmo, sabe? Eu adorava teclar com ela. Eu me conectava à internet no meio da tarde, no inicio da madrugada só para ver se conseguia falar com ela. Se ela não entrava, eu ficava de mal humor e ia dormir com um nó na garganta. As vezes ela me mandava e-mails. Eu adorava. Era mágico! E tipo, a gente era só amigo. Mas amigos estranhos. Nunca havia encontrado-a pessoalmente. E mesmo assim já era louco por ela. Ela parecia sentir o mesmo. Me ligava de madrugada para chorar. Vivia me falando de seu ex-namorado. Eu me retorcia por dentro, ficava realmente chateado, mas tentava ser o melhor amigo da Clarinha nessas horas. Mas e daí? Tudo acabou um dia. Só por que eu disse que tudo que eu sentia devia ser amor. Ela pediu um tempo para pensar. E esse tempo demorou tanto, mas tanto. Que se tornou um ano, dois anos e por fim, nunca mais falei com Clarinha. Nunca mais me ligou. E eu fiquei chateado por dias e dias.
   Hoje estou sozinho e não corro atrás de ninguém. Uma vez conheci uma garota feia que disse que me amava. Eu simplesmente virei a cara e sorri. Pode ser que se eu tivesse ficado com ela eu estivesse hoje acompanhado nos dias frios. Mas eu não a amava. Ela confundiu as coisas.
   Outros dias dos namorados virão...
 
 

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 07/06/2009
Reeditado em 08/12/2011
Código do texto: T1636551
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