Do primeiro a gente não esquece...
Da primeira vez que aconteceu comigo não tinha a mínima ideia nem a consciência do que aconteceria, mas sei que fiz porque quis, movida por absoluta curiosidade, perigo dos perigos! Na segunda e última vez, anos e anos mais tarde, sabia o que estava fazendo, desejei seus efeitos, embora já soubesse o que viria a seguir.
Meu primeiro porre tem sabor de traquinagem de infância. Minha mãe havia parido mais uma linda filha e, costume da roça, servia-se uma bebida feita de ervas, cachaça e mel, Cachimbo* ou Meladinha**, dependendo do lugar. De certeza, em Alagoas e Pernambuco é Cachimbo, na Bahia e em Sergipe, Meladinha.
O fato é que a cada visita, meu pai oferecia a tal bebida e eu, aos sete anos, um bicho tão curioso que dava medo, achei de pedir a ele um pouco. Levei uma bronca, um “isso não é pra criança” sonoro, mas não me dei por vencida: bebi, sorrateiramente, todos os restos (arg!) de bebida das visitas!O “troço” devia ser bom mesmo, porque ficava me esgueirando pelos cantos e depois de um tempo, estava completamente bêbada.
Imaginem o vexame! A casa cheia de parentes e amigos, o cheirinho de alfazema queimando, a alegria no ar e eu, tropeçando, vomitando nos sapatos, falando asneiras (mais do que de costume)... Lembro vagamente de meu pai esbravejando com minhas irmãs mais velhas (coitadas, não tinham culpa de nada!), fazendo um esforço enorme para me dar um banho, me fazer vomitar mais e beber algo, acho que café amargo.
Não foi nada agradável o despertar, no meio da noite. Uma dor de cabeça de matar, um gosto horrível na boca e uma sede insuportável... chamei por alguém e veio meu pai, com um olhar tão bravo que tremi, de pavor. Achei que fosse tomar uma surra ali mesmo. Mas ele esperou amanhecer para juntar a filharada, dar uma bronca coletiva e um “você podia ter morrido, mocinha”. O tom da voz dele o olhar doeram mais que a surra que não deu. Nossa mãe, ao saber do acontecido no dia seguinte, chamou minhas irmãs à responsabilidade com os irmãos mais novos, além de nos deixar de castigo por vários dias. Por pouco, não tomei foi uma surra delas...
O segundo, foi quando enfrentava mais um período de insônia, às portas de colar grau na universidade. Meus vinte e um anos (coincidência, catorze anos após o primeiro) me lembravam que era dona do meu nariz e por pura ansiedade, aproveitando que estava só em casa, entornei quase meia garrafa de um "Whisky sei lá qual" e fui dormir. Na madrugada, acordei bêbada. O teto me sufocava, o chão fugia dos meus pés e o banheiro parecia que mudara para o continente africano, tamanha era a distância que ficou do quarto.
Dia seguinte, encarei as olheiras no espelho, o enjôo e o cérebro sendo esmagado ao ouvir alguém falar alto e prometi, solenemente, a mim mesma, que embriaguez, dali em diante, só de pura felicidade.
X
*Cachimbo - Bebida feita com mel de abelha e cachaça-de-cabeça, oferecida pelo dono da casa aos amigos que vão visitar a criança recém-nascida. É preparada tão logo se tem notícia da gravidez e aberta quando do nascimento da criança. http://www.pe-az.com.br/subsecao_ler.php?id=ODk4
"Meladinha é cachaça, mel de abelha, alho, cebola branca, losna (*), arruda, quitoco (*), salsa, hortelã grosso e erva-doce. Há quem acrescente assa fétida (*). É bebida de mulher parida, sendo também servida como aperitivo." http://www.rainhasdolar.com/index.php?itemid=390
Da primeira vez que aconteceu comigo não tinha a mínima ideia nem a consciência do que aconteceria, mas sei que fiz porque quis, movida por absoluta curiosidade, perigo dos perigos! Na segunda e última vez, anos e anos mais tarde, sabia o que estava fazendo, desejei seus efeitos, embora já soubesse o que viria a seguir.
Meu primeiro porre tem sabor de traquinagem de infância. Minha mãe havia parido mais uma linda filha e, costume da roça, servia-se uma bebida feita de ervas, cachaça e mel, Cachimbo* ou Meladinha**, dependendo do lugar. De certeza, em Alagoas e Pernambuco é Cachimbo, na Bahia e em Sergipe, Meladinha.
O fato é que a cada visita, meu pai oferecia a tal bebida e eu, aos sete anos, um bicho tão curioso que dava medo, achei de pedir a ele um pouco. Levei uma bronca, um “isso não é pra criança” sonoro, mas não me dei por vencida: bebi, sorrateiramente, todos os restos (arg!) de bebida das visitas!O “troço” devia ser bom mesmo, porque ficava me esgueirando pelos cantos e depois de um tempo, estava completamente bêbada.
Imaginem o vexame! A casa cheia de parentes e amigos, o cheirinho de alfazema queimando, a alegria no ar e eu, tropeçando, vomitando nos sapatos, falando asneiras (mais do que de costume)... Lembro vagamente de meu pai esbravejando com minhas irmãs mais velhas (coitadas, não tinham culpa de nada!), fazendo um esforço enorme para me dar um banho, me fazer vomitar mais e beber algo, acho que café amargo.
Não foi nada agradável o despertar, no meio da noite. Uma dor de cabeça de matar, um gosto horrível na boca e uma sede insuportável... chamei por alguém e veio meu pai, com um olhar tão bravo que tremi, de pavor. Achei que fosse tomar uma surra ali mesmo. Mas ele esperou amanhecer para juntar a filharada, dar uma bronca coletiva e um “você podia ter morrido, mocinha”. O tom da voz dele o olhar doeram mais que a surra que não deu. Nossa mãe, ao saber do acontecido no dia seguinte, chamou minhas irmãs à responsabilidade com os irmãos mais novos, além de nos deixar de castigo por vários dias. Por pouco, não tomei foi uma surra delas...
O segundo, foi quando enfrentava mais um período de insônia, às portas de colar grau na universidade. Meus vinte e um anos (coincidência, catorze anos após o primeiro) me lembravam que era dona do meu nariz e por pura ansiedade, aproveitando que estava só em casa, entornei quase meia garrafa de um "Whisky sei lá qual" e fui dormir. Na madrugada, acordei bêbada. O teto me sufocava, o chão fugia dos meus pés e o banheiro parecia que mudara para o continente africano, tamanha era a distância que ficou do quarto.
Dia seguinte, encarei as olheiras no espelho, o enjôo e o cérebro sendo esmagado ao ouvir alguém falar alto e prometi, solenemente, a mim mesma, que embriaguez, dali em diante, só de pura felicidade.
X
*Cachimbo - Bebida feita com mel de abelha e cachaça-de-cabeça, oferecida pelo dono da casa aos amigos que vão visitar a criança recém-nascida. É preparada tão logo se tem notícia da gravidez e aberta quando do nascimento da criança. http://www.pe-az.com.br/subsecao_ler.php?id=ODk4
"Meladinha é cachaça, mel de abelha, alho, cebola branca, losna (*), arruda, quitoco (*), salsa, hortelã grosso e erva-doce. Há quem acrescente assa fétida (*). É bebida de mulher parida, sendo também servida como aperitivo." http://www.rainhasdolar.com/index.php?itemid=390