O progresso entende a vida?
Olho pela janela do meu quarto, onde era mato.
Agora estão picoteados, sem vida, no chão
Entre os galhos se destacam uma grande árvore, caída, cortada em duas partes para se aproveitar a lenha. Imagino o quanto aquela árvore viveu, quanta coisa viu, as bromélias que sempre a acompanharam, e ela sempre as estendeu para o lugar onde batía mais sol.
Quantos pássaros pousaram ali, fizeram ninhos e guerreavam contra cobras que subiam para roubar seus ovos. Quantas tempestades, secas, ventanias, geadas, frio e outras adversidades aquela árvore enfrentou, quem dera ela pudesse detalhar tudo o que já passou.
Mas agora está lá, derrubada, seca. Para dar lugar a um caminhão e sua garagem acabaram com mais de séculos de histórias.
Hoje morri um pouco com aquela árvore, não quero viver até meu canto de sossego virar metrópole, no que os prédios me cercarem eu morrerei, e ficarei caído na terra como aquela pobre árvore.
O progresso entende a vida? Não, não entende, espero que os filhos desses homens sofram por isso, porque eu não vou reproduzir uma espécie capaz de destruir o mundo, não terei filhos, e quero que os dos outros sofram como eu sofri ao ver essa árvore caída.
Porque o progresso não tem coração