FLORES ANTES DO FUNERAL ( “Professor destaque")

Claudeci Ferreira de Andrade

Eu nunca recebi flores e minha única chance de recebê-las, antes de meu funeral, seria se um dia fosse eleito o “Professor destaque" em minha unidade escolar. Mas, para ser eleito o destaque é preciso fazer milagres. Coisa que ainda não aprendi.

Por que somos tão impressionados com coisas miraculosas? Damos toda a nossa atenção àquilo que faz nosso coração bater e acelera a nossa respiração. Quando o chefe vê o espetacular, ele baixa a faculdade de discriminação e perde a razão simplesmente pelo gozo do evento e mostra toda a sua fraqueza, elegendo o funcionário destaque.

Não é de surpreender, portanto, que muitos recorram a testificar de atos deveras impressionantes na escola: índice de reprovação zero, promoção de passeio, aulas de campo, projeto de dança, entrega de diários e relatórios antecipados, nenhuma falta com o livro de ponto, assinado quinze minutos antes do horário. Tem uns que recorrem até a métodos desonestos para se evidenciar, como inspecionar a vida alheia para apresentar a mais quente fofoca, “verdadeiros milagres”.

A maioria de nós talvez não sejamos capazes de jactar-nos de tão magnífico portfólio avaliativo como o deles, mas podemos lembrar-nos de que seríamos capazes de Produzir milagres menores. Pensamos na inundação de sentimentos que tivemos durante o chamado à coordenação, isso produziu até lágrimas, e permanecermos firmes. Pensamos na ocasião em que falamos com alguém importante para ajudar adquirir alguma coisa para facilitar a fluência do trabalho, recebendo um não. E que dizer da ocasião em que conduzimos algum aluno “trapalhão” à coordenação e ouvirmos dela que esse é um aluno especial? Não constitui tudo isto prova de que estamos entre os dignos de destaque, também?

Mas, o resultado final nos adverte de que tudo isto simplesmente é um grande problema. O poder miraculoso pode impressionar-nos; mas somos gratificados mesmos somente por um salário que nos dignifique à vida. Podemos livrar-nos de alguns maus hábitos de professor; dar boas aulas; podemos até mesmo levar pessoa a passarem no vestibular. Entretanto, os únicos impressionados são os outros. O que realmente necessitamos é de ser impressionados com uma vida digna de um profissional que se preze. De outro modo estaremos ainda influenciados por aquele velho mito de que a felicidade está fundamentada no bom desempenho em vez de no poder aquisitivo lato.

Mas, a história de vida de qualquer pessoa (porque todos passam pela Escola) confirma que isto produz servidores atrofiados. Por melhores, miraculosas e rotuladas que sejam as ações, feitas com o seco propósito de vencer o concurso: “professor destaque”, são ações atrofiadas. Não porque as ações em si sejam sinistras, mas porque são feitas por pessoas alienadas.