BRANDO OU BRANDO VERME!

Brando era o apelido de um condadense muito conhecido, que faleceu no ano passado. Ele era uma pessoa especial, pois tinha um pequeno atraso mental, mas era uma figura simpaticíssima. Todos que o conheciam, gostavam de brincar com ele. E ele gostava muito de conversar.

O mais interessante, é que ele conhecia todo mundo que o cumprimentava, de velho a menino. Às vezes, eu passava meses sem vê-lo, porque eu vinha estudar no Recife e só ia a Condado nos finais de semana, mas nem sempre o encontrava, porém quando nos encontrávamos, ele gritava: “Irmaé!”

Muitas vezes nós estávamos numa roda de amigos e ele chegava. Não tinha menor ideia do que se falava, mas entrava no assunto e dava seus pitacos. Na maioria das vezes, chegava a ser muito engraçado quando ele conversava. Suas conversas não tinham pé nem cabeça, mas não havia malícia no que ele dizia. Ele era uma eterna criança.

De vez em quando eu penso que essas pessoas são mais felizes do que nós, que somos normais ou achamos que somos. Pois, para pessoas como Brando, o mundo não tem problemas, nada tem valor. Tanto faz ter ou não ter qualquer coisa. As únicas coisas que lhe interessam, eram comida e água. O resto era resto mesmo. Algum condadense que o conheceu poderá dizer: “mas ele sempre pedia dinheiro”. Sim, pedia, mas pedia pra comprar comida.

Lembro muito bem de Brando, com suas pernas um pouco tortas, que quando caia, precisava de alguém para pegar em suas mãos, pois sozinho ele não conseguia se levantar. Apesar de andar a cidade toda, ele não tinha força nas pernas. Na maioria das vezes, nós estávamos sentados em bancos de praça, ele chegava, sentava no chão e já ia participando da prosa. Não interessava qual era o assunto.

Eu nunca soube o seu nome, mesmo o conhecendo desde a minha infância. Mas era porque isso não tinha muito importância, para nós ele era simplesmente Brando ou Brando Verme. E pronto! Isso é o que era importante. Quem quisesse saber seu nome que fosse perguntar a seus familiares.

Eu acredito que Brando era mais velho do que eu, mas não tenho certeza, porém eu me lembro de duas cenas bem interessantes a respeito dele. Uma muito triste e outra muito engraçada.

A primeira é que, na minha adolescência, eu estava tomando umas na casa de um amigo, que prefiro não citar o nome, e Brando estava conosco. Éramos em torno de oito a dez pivetes. O mais velho era o dono da casa e seus pais não estavam. Lá pras tantas da noite, esse rapaz, bem mais velho do que nós, resolveu tirar uma brincadeira de muito mau gosto com Brando. Eu me revoltei, mas não pude impedi-lo. Eu pedia para ele parar, como outros amigos também pediam, porém ele não nos atendia.

Pra encurtar a história, esse cidadão pegou um tamanco de salto grosso e bateu na unha do dedão do pé de Brando, chamando isso de brincadeira. O sangue saiu na hora! Achando pouco, ele tentou fazer o sangue parar. Aí colocou alguns “sanativos” bem exóticos: aguardente, conhaque de alcatrão, rum, álcool e depois gasolina. Que cena dolorosa! Brando chorava feito um menino: “fai isso não fulano, fai isso não!”. Eu fiquei horrorizado. Que eu me lembre, nunca mais bebi com este rapaz.

A outra é uma cena muito engraçada. O próprio Brando nos contou. Não sei se foi verdade. Ele nos disse, e repetiu muitas vezes, que tinha ido pescar com seu pai. Em um dado momento seu pai escorregou na beira do açude e lhe pediu socorro, ao que ele, inocentemente, respondeu em cima da bucha: “morre só não, peste!”