Nem sempre dá certo...

Na fila do cartório, fiquei atrás de uma mulher de seus cinqüenta anos. De repente, não sei por que, ela principiou a contar-me sua história. Era divorciada. Depois de sofrer com a separação e finalmente conformada com o desfecho daquele casamento, pensou em arranjar um novo marido.

No intuito de conhecer possíveis candidatos, passou a freqüentar bailes. Freneticamente. Não recusava convites das amigas para ir a salões. Às vezes decepcionava-se, pouco dançava, tomava chá de cadeira. Arrependia-se de ter ido. Outras vezes, dançava sem parar e voltava para casa satisfeita. Mas os recentes relacionamentos não foram adiante. Nunca chegou a se interessar realmente por ninguém, nem encontrou quem a visse com olhos especiais. Parecia que o homem de seus sonhos não circulava pelos mesmos lugares. Onde estaria ele?

Na internet, sussurram-lhe mulheres mais jovens e modernas. Teve, então, que aprender a lidar com o computador. Deram-lhe aulas e com muito custo conseguiu entrar nos tais programas de relacionamento. Distraiu-se, não resta dúvida. Olhava fotos de homens sedutores, animava-se. Mas como acreditar em gente que não conhecia? Ela mesma podia inventar umas lorotas e mostrar-se diferente do que era. Mas manteve-se firme. Um dia, marcou encontro com um senhor muito sério, que se dizia cansado da vida celibatária. Arrumou o cabelo, vestiu elegante conjunto. Estava bonitona mesmo. E ele?... foi minha pergunta inevitável.

Não era exatamente igual à foto, ela confessou. Mas não deixava de ser simpático. Bem educado. Sua conversa era até agradável. O que a impressionou mais, no entanto, foi que ela mesma não teve a reação tão sonhada. Sabe aquele “tchan”?... não sentiu!

Depois disto, começou a imaginar-se casada novamente. Valeria a pena? Justo agora que já se acostumara a tocar a vida sozinha? As filhas, encaminhadas, pouco paravam em casa. Teria paciência para aturar manias de um homem? Porque as teria, sabia perfeitamente... Foi por esta época que desistiu da procura. Agora está feliz, encontrou consolo na igreja.

Pensei que fosse me dizer que virou carola, que missas e rezas lhe traziam paz de espírito. Mas não, não é católica. Logo descobri que a companhia de outros fiéis é que preenchem sua vida. “É como se fossem a minha família”, ela continuou. “Fazemos muitas festas e reuniões sociais”. Na véspera mesmo, tinham passado o dia em um churrasco não sei onde...