Pardais
Naquele tempo, eramos um bando;
bando de andorinhas, de pardais.
Época da pelada na praia,
do jambolão e da tubaína
na venda da esquina.
Do olhar pelas frestas
prá ver a prima se trocando
e a gente, se tocando
no solitário gozo das mãos.
Da mãe chamando pro almoço,
que na maioria das vêzes
era sem mistura, mas,
que engoliamos com gôsto.
Do gol caixote sagrado,
jogado na rua e que muitas vêzes,
destruia unhas e dedos.
Do mêdo de dizer prá menina
que estávamos sim, apaixonados;
então, guardávamos segredo,
até chegar o primeiro beijo dado.
Hoje, olhamos filhos e netos
e nos perguntamos onde estão
os barulhos e as bagunças
dos nossos novos pardais.
Onde estão as pipas, balões
e matinês dos domingos à tarde.
E, porque tudo isso se foi,
resta-nos apenas recordar
e enfim, sómente rezar
por estes nossos pardaizinhos
que irão um dia voar!