Brisa
A suave brisa soprava vinda do Leste. Tinha o perfume da terra, naquele banco de madeira já envelhecido.
Um parque. Árvores centenárias, testemunhas de namoros, beijos e abraços, confissões de amor, olhares trocados, penetrantes.
Quanta coisa! Planos traçados, casamentos à vista, tudo sob a sombra das árvores que guardam segredos incalculáveis, alguns bastante confidenciais.
Para completar tudo isto, um lago com chafariz, limpo, com pequenos peixes. Ali não proliferam mosquitos, raça impertinente que além de aborrecer, traz malefícios à saúde.
E os canteiros? Todas as cores, difícil falar. As plantas, pior ainda, principalmente para quem é apenas um admirador, e não um conhecedor. Distinguem-se somente as grandes vitórias-régias na superfície do lago.
Um lugar encantado? Talvez sim. O parque antigo foi feito pelo homem, mas é difícil imaginar quem guiou seu pensamento, quem plantou as árvores, não tem tabuleta indicando nomes, tem apenas um marco de concreto, visivelmente novo e colocado muito após o parque ser construído.
Crianças fazendo brincadeiras criativas. As crianças... Na sua suposta e presumida inocência, são seres que colocam o adulto consciente a pensar.
Puras, autênticas, espontâneas. Parece que o mundo seria bem diferente, se todos os adultos ainda colocassem para fora a criança que têm dentro de si. Exagero? Nunca. A alma infantil é pura, ainda não contaminada com as disputas, o preconceito, a gana pelo poder, seja material, intelectual ou mesmo os dois.
Quando consegue sua liberdade desta educação que mata a pureza, o homem torna-se artista. Em qualquer atividade, sem distinções. Alguns, não muitos, tornam-se artistas mesmo. Sentem e sabem expressar o que vai dentro d’alma.
Enquanto isso, a suave brisa continua soprando. É a brisa da Vida, é o vento do desconhecido que coloca as cabeças mansas, próximas umas das outras, próximas da Vida.
Sopra, brisa. Continue soprando.