Cogito Ergo Sum
" O leão é feito de carneiro assimilado." - Paul Valéry
E stive lendo “As Meditações” de Descartes e tive uma pequena expansão do meu pensamento. Não foi um samadhi, nem foi a incorporação de um Anjo; não foi o efeito do Daime, nem foi a expansão do coração provocada por uma meditação. Foi apenas um entendimento que provocou um olhar sob todas as coisas que há.
L eio filosofia, como também leio poesia, como leio o Baghavita Gita, as pérolas da Bíblia e sim, acho que tudo o que foi escrito pelo homem é farinha do mesmo Saco de Farofa do Divino, sou Paraíba Vagamundo, me permitam o uso dos meus "símbolos"; mas percebam não sou filósofo, assim como não sou religioso e por ser nada, posso dizer tudo.
P or ser nada, posso soltar as minhas palavras pelo ar, sem receio que algum leitor desatento, possa achar que está diante da Grande Verdade, pois Grande Verdade não há.
N ão é mentira, pois se essa reflexão veio a mim, alguma verdade há, e por isso vou continuar a contar:
L ia Descartes e fui tomado por um entendimento que levou-me a sintonizar uma energia de plenitude tão grande que torci o olhar e com os olhos vendo além desse mundo, notei que escondido nas dobras das coisas, no intervalo do tempo, tendo a cara de Tudo, flui uma Força misteriosa, que mantém esse Tudo coeso, o nosso coração aceso e estabelece uma relação entre o um e o outro; e não deu outra, vi você em mim; eu em você, como Um único ser que brinca de ser várias pessoas.
U m êxtase muito grande foi tomando conta do meu ser, e quando eu percebi, já era toda coisa, parte de um Todo, que é claro, poderia ser coisa da minha cabeça; e era; mas justamente por ser, não deixa de ser verdadeiro. E quando me notei em você, vi esses elos que nos unem; como agora quando eu sou letras em seus olhos, e você é leitura em mim. E esse elo era Ele, Ela, ou Eleá ou Elaê brincando de se esconder em mim e em você.
F ui tomado por esse olhar, que bem poderia ser uma loucura; e mesmo que fosse, e era, ainda assim tem a sua lógica, um sentido, pois se tornou uma direção que me levou a esse olhar coletivo sobre todas as coisas que penso que há e achei muito mais do que pensei encontrar.
P erceba que essa visão é apenas a minha visão, uma subjetiva percepção de tudo que está ao nosso redor, mas mesmo assim, ela não deixa de ser importante para você compreender que embora todos nós tenhamos uma diferente percepção das coisas, Uma Só Força nos envolve, e segue nos levando por entre as vidas, para muito além da morte, guiado pelo amor, pela magia do bem estar, do bem fazer e do bem espalhar.
F az parte da nossa natureza procurar essa Força, tentar nomear, compreender, estudar, pois se temos essa curiosidade de saber porque somos e estamos; é que essa coçeira, esse desconforto, esse alvoroço, essa vontade de procurar foi colocada lá, antes mesmo de nascermos por essa mesma Força que não quer outra coisa além da nossa curiosidade despertada, nossa busca saciada e nosso destino preenchido. Se estamos vivos e em busca Dela, é porque não poderíamos fazer mesmo algo além disso. Somos programados para buscar, estudar; e só aí, encontrar.
E ainda assim duvidar, pois se essa busca por essa Força fosse uma busca insensata, burra, seguiríamos como carneirinhos, qualquer pastor com flauta encantada; qualquer brilhar, e nem tudo que brilha é estrela; assim como nem tudo que cai é chuva.
F az parte da nossa natureza duvidar, para elucidar, para não deixarmos buracos no roteiro, para que façamos essa busca direito; pois tudo que deixamos para trás, sem a devida atenção, sem o devido estudo, sem o devido cuidado, volta para nos assombrar e assombração nada mais é do que as nossas Sombras em Ação.
E ssa Força nos deu a lógica para essa busca, para que não caiamos em qualquer arapuca na busca por respostas.
E ssa Força nos deu inteligência, para que sigamos com diligência, sem pressa de tentarmos aprEEnder um conhecimento que é preciso maturidade para REter.
E ssa Força nos deu a Fé para que possamos acreditar na mágica, porque nessa busca, volta e meia, nos deparamos com o absurdo, com o que foge ao entendimento da consciência, com o surreal; e muitas vezes, como não conseguimos compreender o paradoxal, chamamos essas vezes de coincidência.
E ssa força nos deu um centro de discernimento, para que possamos entrar no furacão da espiritualidade e não acreditarmos em qualquer vento, em qualquer voz, em qualquer visão que tente pensar, dizer algo por nós.
E ssa força nos dará a certeza quando por nosso próprio mérito trilharmos o caminho que sempre deixamos os outros trilharem pela gente: o caminho da Sua descoberta que é um caminho solitário, individual e subjetivo. No entanto, as recompensas dessa descoberta são totalmente para o coletivo, não por nossa vontade de salvar o mundo, mas porque quando fazemos algo direito, bem e perfeito, esse algo se torna tão brilhante que vira seta dourada, poço de diamantes para todas as pessoas que ainda não conseguem trilhar esse caminho sozinho.
P or isso essa Força se esconde, pois seja lá onde ela esteja, Ela quer ser encontrada com o nosso esforço e não com o pão, o vinho e o queijo cortadinho na mesa por outra pessoa.
Q uando as palavras de Descartes atingiram meus olhos, e entraram em meus pensamentos, subitamente, uma enxurrada de idéias desceu em direção ao meu coração e eu pude perceber que a coisa mais linda que há é a busca espiritual recheada com consciência, questionamento sadio, vontade de saber sem se importar com a conseqüência; e muito amor no peito, para saber que seja lá o que a nossa percepção nos mostre, o que quer que deva ser feito, nada vai alterar o amor pela nossa família, o trabalho que temos que fazer, as coisas reais dessa vida, as contas que precisam ser pagas, o saborear a comida bem feita, o cheiro do cafezinho com pão com manteiga; pois se estou aqui e agora com vocês, é porque eu preciso estar aqui e agora com vocês.
R eceio que esse olhar torto que eu dei, esse fluxo de pensamento expandido, onde senti que somos mais do que aparentamos, não vou com letras conseguir reproduzir, nem te ensinar; pois quando o assunto é o Divino, tudo é subjetivo e multisentido, mas ainda assim, por mais que eu nunca mais torne a desse modo olhar, a ver novamente esse brilho, a experiência ocorreu e se aconteceu, veio por algum motivo, alguma razão, talvez para que eu escrevesse esse texto que aparentemente não diz nada de novo, mas ainda assim pode ser que te faça olhar torto e você veja nas dobras das coisas, nas curvas do tempo, nos cantos do mundo, a mesma coisa que eu: os outros.
* Cogito ergo sum: Descartes
Frank Oliveira
6 de junho de 2009
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