MAIS VANTAGENS AINDA (Suborno admirável)
Claudeci Ferreira de Andrade
Certo homem tinha um filho na escola pública, e vindo pegar seu boletim, descobriu de novo que seu amado filho estava reprovado. Pelo que disse à diretora:
—Há três anos venho tentando fazer desse menino gente, mas ele não quer; pode cortá-lo da escola. Para que está ele ainda ocupando inutilmente a escola?
— Esse, é uma criança saudável e não é violento, deixe-o, não está causando dano algum! – Disse a gestora hipocritamente.
Mas, de acordo com a Secretaria da Educação, esta criança está causando dano sim, por está ocupando a vaga de outro que precisa ascender no sistema educacional. E custa cem dólares por dia ao Estado. Ele representa mal a sua família e não somente é improdutivo, mas constitui um estorvo para os que querem ascender na carreira estudantil.
No ponto culminante desse relato, quando a situação parece estar muito tensa e desejamos saber se um aluno deve ou não ser expulso da escola quando reprovado na mesma série por mais de duas vezes; há o argumento apresentado por essa gestora escolar. Ela até admite que declaração do pai é correta, porém, replica:
— Deixe-o ainda este ano. Vamos conceder-lhe uma recuperação especial. Vamos inscrevê-lo no programa bolsa escola, dar-lhe os livros, esse ano não vai faltar o lanche das crianças e se tiver boa frequência, a família será beneficiada com o salário escola.
Agora, o pai e a diretora estão juntos aí, em unidade de propósito, então perguntemos: “Tiramos o menino da escola?” E eles dizem:
— Não; não o tiremos. Deixá-lo-emos este ano. Procuraremos fazer outra coisa. Dar-lhe-emos mais vantagens.
Ouça, amigo leitor: você acha que está passado o limite, e um aluno, que vai à escola só para fazer número, merece ser cortado; sim ou não? Eis aqui a evidência da opinião contraditória do sistema educacional a respeito do caso nesse tempo de misericórdia e graça: “Deixe-o. A essa criança do fundamental, a esse jovem do Ensino Médio, àquela pessoa idosa da EJA, que ficou fora da graça muitos anos, concede-lhes mais um ano. E mais um depois disso, e então mais um ainda.”
O mercado de trabalho corta mais depressa do que o sistema educacional. Quão admirável é o sistema educacional que servimos! Ele não nos trata como os empresários tratam seus funcionários e colegas de trabalho, mas continua oferecendo sua misericórdia e seus favorecimentos sem referência no mundo no qual pretende inserir seus "formados". RsRsRs.