Privilégios Felinos
Todos sabem, ou pelo menos deviam saber, que os gatos possuem sete vidas. Tive a oportunidade de testar isso em um gatinho quando tinha oito anos de idade. Por favor, tenham piedade. Eu não sabia o que fazia e arremessei o felino da sacada do sobrado da casa de uma tia. O bichano miou com um poder vocal que até hoje me assombra os tímpanos.
- Se o animais dos filmes e desenhos que assistia sobreviviam, por que aquele deveria morrer? - Na minha crença ele não só sobreviveria, como não se importaria em ser daquela forma provocado. O miado durou eternos segundos acordando os adultos para a energia que sobrava em mim. Abriu as quatro patas ao vento em um desejo enorme de ter asas (sendo que esse não tinha: leia nossa crônica ¨Gato com Asas¨) ou de ser um pássaro, visto que não era e caiu, para a sorte de ambos, muito macio sobre um canteiro de coloridas e redentoras hortênsias.
Levei bronca e beliscões, mas provei a teoria: os gatos realmente foram premiados com vidas extras. Embora estivesse curioso para testar os limites do felino, os parentes não me deixaram em paz naquele fim de semana e afastaram-no de mim. Senti-me o pior criminoso e não um cientista podendo atestar, na própria pele, toda a desventura dos meus predecessores na arte de desmascarar as superstições. É o preço da curiosidade.
Minha teoria é constantemente reforçada. Um bichano americano chamado Lucky (sortudo em inglês), sobreviveu em Nova York após um mergulho fabuloso por 26 andares. E os meus parentes quase me crucificaram por lançar um animalzinho por apenas dois andares. O mundo é injusto.
A modernidade não perdoa e dois homens que estavam em um andaime do outro lado da rua filmaram tudo. Será que esperavam pelo flagrante ou miravam a sua câmera na dona do bichano, uma loira que arrumava seu apartamento para receber amigos para uma festa? Por descuido, em meio à sofreguidão do evento, a loira (sem piadinhas, pessoal) deixou uma janela aberta e o castigo se fez aparecer. Gatos transitam por janelas desde que essas foram inventadas e não foi diferente com o ¨Sortudo¨. Perdeu o equilíbrio e por pouco não vira matéria-prima de tamborim.
Os rapazes deviam se encontrar com a câmera apontada para o caso de ocorrer alguma eventualidade, como um acidental ¨streap tease¨. Faturaram um dinheiro extra vendendo o vídeo para a imprensa, deduzo, e se tiveram sorte foram convidados para a festa pela dona.
No entanto, nem sempre a natureza privilegia os felinos. Uma conhecida contou-me que seu gatinho, quando moravam em uma casa, tinha o hábito de saltar sobre uma cômoda e daí para a janela ganhando o quintal. Mudaram para o décimo andar de um prédio. Instalaram a cômoda na frente de uma janela, mas esqueceram de alertar ao bichano que já devia ter queimado seis vidas. A fisionomia do primeiro morador ao se deparar com a carcaça não deve ter sido das mais animadoras.
Não foi o primeiro caso de fracasso felino que conheço. Outro conhecido pesando seus 150 quilos bem tratados foi a uma festa no apartamento de uma amiga que tinha um pequeno gatinho. Durante o evento a dona preocupou-se com o desaparecimento do seu bichano:
- Alguém viu o Six?
Em um determinado momento meu amigo decidiu verificar por que parecia haver um prego no sofá e percebeu que se sentara sobre o pequeno membro da família. Discretamente, sem que ninguém percebesse, no primeiro momento livre, lançou-o pela janela. O cadáver deve ter sido localizado somente após a sua saída do recinto. Durante vários dias evitou contato com a dona e nunca soube dos desdobramentos. Estranhamente a dona nunca mais o convidou para festa alguma.
- Será que ela desconfiou de algo? – Ele ainda se pergunta. Era mais um caso de gato na última vida.
Seja como for, no que tange ao bom senso, deixemos os gatos em paz e que vivam plenamente suas vidas: seja uma, sejam sete.
(Compromisso com a verdade: confira a saga de Lucky nos braços da ¨loira¨ -
http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL1183443-6091,00-GATO+CHAMADO+SORTUDO+CAI+DO+ANDAR+E+SOBREVIVE+NOS+EUA.html
)
Todos sabem, ou pelo menos deviam saber, que os gatos possuem sete vidas. Tive a oportunidade de testar isso em um gatinho quando tinha oito anos de idade. Por favor, tenham piedade. Eu não sabia o que fazia e arremessei o felino da sacada do sobrado da casa de uma tia. O bichano miou com um poder vocal que até hoje me assombra os tímpanos.
- Se o animais dos filmes e desenhos que assistia sobreviviam, por que aquele deveria morrer? - Na minha crença ele não só sobreviveria, como não se importaria em ser daquela forma provocado. O miado durou eternos segundos acordando os adultos para a energia que sobrava em mim. Abriu as quatro patas ao vento em um desejo enorme de ter asas (sendo que esse não tinha: leia nossa crônica ¨Gato com Asas¨) ou de ser um pássaro, visto que não era e caiu, para a sorte de ambos, muito macio sobre um canteiro de coloridas e redentoras hortênsias.
Levei bronca e beliscões, mas provei a teoria: os gatos realmente foram premiados com vidas extras. Embora estivesse curioso para testar os limites do felino, os parentes não me deixaram em paz naquele fim de semana e afastaram-no de mim. Senti-me o pior criminoso e não um cientista podendo atestar, na própria pele, toda a desventura dos meus predecessores na arte de desmascarar as superstições. É o preço da curiosidade.
Minha teoria é constantemente reforçada. Um bichano americano chamado Lucky (sortudo em inglês), sobreviveu em Nova York após um mergulho fabuloso por 26 andares. E os meus parentes quase me crucificaram por lançar um animalzinho por apenas dois andares. O mundo é injusto.
A modernidade não perdoa e dois homens que estavam em um andaime do outro lado da rua filmaram tudo. Será que esperavam pelo flagrante ou miravam a sua câmera na dona do bichano, uma loira que arrumava seu apartamento para receber amigos para uma festa? Por descuido, em meio à sofreguidão do evento, a loira (sem piadinhas, pessoal) deixou uma janela aberta e o castigo se fez aparecer. Gatos transitam por janelas desde que essas foram inventadas e não foi diferente com o ¨Sortudo¨. Perdeu o equilíbrio e por pouco não vira matéria-prima de tamborim.
Os rapazes deviam se encontrar com a câmera apontada para o caso de ocorrer alguma eventualidade, como um acidental ¨streap tease¨. Faturaram um dinheiro extra vendendo o vídeo para a imprensa, deduzo, e se tiveram sorte foram convidados para a festa pela dona.
No entanto, nem sempre a natureza privilegia os felinos. Uma conhecida contou-me que seu gatinho, quando moravam em uma casa, tinha o hábito de saltar sobre uma cômoda e daí para a janela ganhando o quintal. Mudaram para o décimo andar de um prédio. Instalaram a cômoda na frente de uma janela, mas esqueceram de alertar ao bichano que já devia ter queimado seis vidas. A fisionomia do primeiro morador ao se deparar com a carcaça não deve ter sido das mais animadoras.
Não foi o primeiro caso de fracasso felino que conheço. Outro conhecido pesando seus 150 quilos bem tratados foi a uma festa no apartamento de uma amiga que tinha um pequeno gatinho. Durante o evento a dona preocupou-se com o desaparecimento do seu bichano:
- Alguém viu o Six?
Em um determinado momento meu amigo decidiu verificar por que parecia haver um prego no sofá e percebeu que se sentara sobre o pequeno membro da família. Discretamente, sem que ninguém percebesse, no primeiro momento livre, lançou-o pela janela. O cadáver deve ter sido localizado somente após a sua saída do recinto. Durante vários dias evitou contato com a dona e nunca soube dos desdobramentos. Estranhamente a dona nunca mais o convidou para festa alguma.
- Será que ela desconfiou de algo? – Ele ainda se pergunta. Era mais um caso de gato na última vida.
Seja como for, no que tange ao bom senso, deixemos os gatos em paz e que vivam plenamente suas vidas: seja uma, sejam sete.
(Compromisso com a verdade: confira a saga de Lucky nos braços da ¨loira¨ -
http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL1183443-6091,00-GATO+CHAMADO+SORTUDO+CAI+DO+ANDAR+E+SOBREVIVE+NOS+EUA.html
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