Parfait amour

René, nosso amigo belga, falava os érres igualzinho um caipira. Para fazer uma idéia do que é isto, tente ler alto a seguinte frase, imitando um capiau: “Fermez la porte, s’il vous plaît.”

Tivemos que conter o riso, não esperávamos aquilo. Mas como na Bélgica se fala duas línguas,de início pensamos que ele fosse flamengo. Nada disso. Discretamente Julienne explicou-nos que era um defeito mesmo.

René era alegre e gostava de uns traguinhos.Toda noite abria um bom vinho e nos deliciávamos.Chegada a hora,lá vinha ele com a garrafa e, enquanto sacava a rolha,perguntava todo lampeiro: “poquito vino, poquito vino?” certo de que falava português.

Depois do jantar não podia faltar o licorzinho. Então ele trazia um licor roxo, chamado Parfait Amour. Era o de sua preferência e nós o acompanhávamos. Assim que os copos se esvaziavam, ele dizia logo: “encore un parfait amour?” (mais um amor-perfeito?). Até hoje não podemos deixar de dizer isto, sempre que oferecemos novamente uma bebida. E repetimos a frase igualzinho ao René, pronunciando os erres daquele jeito.

Infelizmente ele já se foi, mas nos deixou essas boas lembranças...