Perdidos na Bélgica

Na Bélgica os “wallons” falam francês e os “flamands”, o flamengo, dialeto do holandês. As duas línguas são oficiais, não há uma divisão geográfica bem estabelecida. Há cidades em que os “flamands” predominam e em outras a maioria dos habitantes é de “wallons”, descendentes dos franceses. Teoricamente todos os belgas deveriam conhecer as duas línguas, mas na prática não é bem assim. Há muita disputa entre eles.

René, nosso amigo belga, bem mais velho que nós naquela época, era bem tagarela. Aposentado, trabalhava como guia turístico de aposentados. Com seus velhinhos, fazia muitas viagens aos países vizinhos. Contou-nos histórias engraçadíssimas. Sua mulher Julienne também era divertida e eles quase se disputavam na hora de contar os casos. Estivemos várias vezes com eles e aqueles fins-de-semana na Bélgica eram de lavar a alma.

René tinha raiva dos flamengos. Dizia que eram mais espertos que os wallons e não se conformava. Pois não é que os flamengos estudavam francês na escola, desde pequenininhos? E eles, franceses, por acaso sabiam falar o flamengo? Esta desigualdade lhe corroía a alma.

Tivemos a oportunidade de confirmar, de perto, o que isto significava para ele. Durante um passeio que fizemos de carro, por descuido, nosso amigo saiu da Bélgica e, ao voltar, não sabia bem o caminho. Estávamos numa região flamenga, o certo seria pedir informações. Mas ele se recusou. Falar com flamengos, de jeito nenhum! Perdidos estávamos, perdidos continuamos.

Foi preciso consultar vários mapas para regressarmos a casa.