DEUS ESTA VIVO E É CAMELÔ EM SAMPA
Sei lá o que me deu, ao invés de caminhar nos passos dos outros, decidi criar um caminho meu; e resolvi encontrar o Divino nas trilhas de Sampa.
Não pode ser, você vai dizer. É, eu sei que ninguém encontra Deus nas ruas de São Paulo, talvez encontre nos Himalaias da Índia, quizas no El Camino de Santiago, or perhaps in Stoneheage; mas nunca por aqui, afinal, não há livro falando sobre buscas espirituais na Praça da Sé, nem iluminações no Largo São Francisco; se alguém atingiu o Nirvana comendo pastel numa feira ficou mineirinho; e foi pensando nisso; e percebendo o quanto muita gente não tem grana para bancar uma peregrinação em Roma, que inventei um novo nicho espiritual: Os Caminhos de São Paulo.
"Incomodada Ficava Sua Avó Sem Saber Onde o Divino Achar, Com Vocês:
Os Caminhos de São Paulo."
Essa trilha consiste basicamente na possiblidade de encontrar o Divino partindo das ruas do centro em direção aos quatro cantos da cidade, tendo como destino uma igreja famosa (não sou cristão, mas botei igrejas como destino pois fica muita mais fácil de lembrar, e convenhamos, ninguém consegue mesmo lembrar do nome ou da localização de nenhuma mesquita, templo hindu ou sinagoga famosa), e além disso, a idéia do caminho é caminhar.
Daí, decidi percorrer essas rotas para demarcar o território, e é claro, não sou nada bobo, registrar rapidamente o "divinecopyright ©", antes que alguém tome a dianteira. Sou crente escaldado; já roubaram o meu "Somos Todos Um" antes, e eu não ficaria nadinha surpreso, se amanhã aparecesse alguém com um programa na Rádio Mundial oferecendo-se como guia para o caminho que eu inventei.
Então fui para 25 de Março em busca dos ítens para a minha peregrinação: bota, capa-de-chuva, mochila, etc - e critiquem o quanto quiserem - não há lugar melhor e que se adapte mais ao orçamento de um Paraíba vivendo em Sampa que a 25. Lá chegando, descobri que não apenas fecharam a Galeria Pagé, onde eu comprava meus artigos originais de áudio e video, como encimentaram a entrada - quem o fez deve ter as suas razões - mas coitados, né gente, dos coreanos e dos chineses que entraram legalmente para trabalhar no centro de Sampa.
Anyway, sem o meu shopping center favorito, fui parar nas ruas, de camelô em camelô, testando tênis, fazendo test-driver nas mochilas e em uma das barracas, encontrei Deusdete, popularmente conhecido como Deus entre os amigos e clientes mais fidelizados.
- Pode me chamar de Deus mesmo! - disse ele - O pessoal diz que eu opero milagres.
- Como assim? - perguntei - Você cura os doentes ou coisa parecida?
- Coisa parecida! - Ele respondeu - Consigo o remédio que você quiser pela metade do preço e não é do Paraguai, é produto legítimo. O cliente chega aqui doente e já sai curado.
Não quis saber os detalhes do milagre, mas ele continuou:
- Tem gente que anda essa 25 de Março inteira procurando por algo e não encontra, mas basta vir a mim e ele acha na hora.
E depois dizem por aí que Deus não existe...
Frank Oliveira
03 de junho de 2009
http://cronicasdofrank.blogspot.com/