Gloriosos cantores bregas

                               (Pros namorados)


  Salve eles! E a maravilhosa música brega!
  Peço desculpa a Santo Antônio, mas, este ano, mais uma vez, não vou falar sobre as rezas, as novenas e as promessas pro santo casamenteiro, às vésperas do dia dos namorados.  Quem quiser que o faça, mesmo correndo, sei lá, o risco de "chover no molhado".

   Que quero dizer com chover no molhado?   Que nada de novo se poderá acrescentar à conhecida devoção antonina, cultivada com ardor e perseverança, pelas nossas solteironas; e acho que em todo o mundo. 

    Que elas sigam ascendendo suas velinhas votivas nos altares do santo português. E o mais trágico: mergulhando, em copos ou jarros, a imagem de Antônio de Pádua, de cabeça para baixo, tantas vezes lhes peçam seus aflitos corações.
     De repente aparece um mancebo ou um coroa qualquer livrando-as de um cruciante caritó; e o milagroso santo lusitano será salvo de um afogamento, que parecia inevitável e cruel.

     Uma colega, sócia de um conceituado escritório de advocacia em Salvador, amarga um forçado celibato, que já se arrasta por muitos anos.
     Outro dia, telefonou-me pra dizer - palavras suas - que "este ano a coisa sai". E, em seguida, confidenciou-me o que fará no dia 12 de junho. Restou-me aplaudir sua renovada e incontida esperança.
     Mas, aqui pra nós, e sem lhe querer mal, desconfio que a nobre colega ainda não se deu conta de que os anos avançaram, deixando no seu rosto, outrora de uma beleza angelical, dobras indeléveis e denunciadoras...
     Os que a conhecem pessoalmente, e sabem da sua desesperada teimosia em arranjar um maridão, dizem que Santo Antônio enfrentará sérias dificuldades para livrá-la do barricão.
    Mas o milagre pode acontecer. 
    De súbito, eis que ela sai de um cinema, de um motel, com alguém que sucumbiu diante de sua maneira elegante de viver e de seu modo lhano de se comunicar. 

    Ao invés, pois, de falar - e quase só falei -  sobre o obsequioso e paciente santo casamenteiro, agradando em cheio às minhas amigas candidatas a titia, de mim os namorados ouvirão hoje sinceros aplausos a dois dos nossos gloriosos cantores bregas: Reginaldo Rossi e o saudoso Waldik Soriano.

     Presto-lhes esta homenagem com muito respeito, e digo por quê. Confiram: com suas canções bregas (?) eles mais não fazem do que cantar o amor, e com indiscutível blandícia. -   E o amor, só o amor, é o que interessa aos namorados, ao se aproximar o dia que lhes é dedicado. 

    Deixem-me, agora, dizer uma coisa: casais verdadeiramente apaixonados jamais se recusarão a ouvir ou escutar, como queiram, as canções românticas  do Reginaldo e do Waldik.  Se o fizerem, entre eles não existe amor: é pura vadiagem.
 
    Tenho afirmado por aí, que, em determinados momentos e circunstâncias, a música brega bem amorosa, bem dengosa, respeitosa, faz tanto ou mais "efeito" do que um verso de Vinícius ou um soneto de Bilac. 

     Houve um tempo - e que tempo lindo aquele! - em que os namorados se acariciavam trocando "mensagens sonoras", pelo rádio. 
     E para essa sonorosa troca de carinhos, eles não recorriam nem a Bach nem a Beethoven. Buscavam, sim, os cantores bregas que se digladiavam nas paradas de sucesso, arrancando palmas, nos programas de auditório.

      Uma vizinha de minha irmã, hoje sexagenária e curtindo uma torturante solidão, derramava copiosas lágrimas, ouvindo Lindomar Castilho. Dizia que se recordava "daquele sujeitinho" - seu primeiro namorado - que a abandonara "por aquela fulaninha".

     Quantos corações apaixonados não ouvem, suspirando, as canções do Amado Batista? 
     E assim foi com o Vando, com o Odair José, com o Nelson Ned, com o Adilson Ramos, com o Orlando Dias e tantos outros ilustres bregueiros.

    Tenho absoluta certeza de que, nos palcos e até nos picadeiros, o alegre Reginaldo Rossi nunca será vaiado, cantando Garçom, com aquele seu trejeito de um cara apaixonado.
      O Waldik - me disseram os que o coheceram de perto - nunca foi hostilizado depois de cantar, com seu chapéu e tudo, Paixão de Homem Eu não sou cachorro não.

       Aproveito para, de pé, bater demoradas palmas para a atriz Patrícia Pillar que lhe preservou a memória, produzindo e dirigindo, com tanto amor, o documentário Waldik Soriano - Sempre no meu coração. 

      Cantores bregas do meu Brasil, cantai, cantai, cantai sem parar. Não deem bolas pra crítica; especializada, mas nem sempre leal; nem sempre justa.
      Vocês podem estar consolando corações machucados por uma louca paixão que não deu certo, mas, mas, mas nunca esquecida...

               ***   ***

   NOTA -  Brega - Pra quem ainda não sabe, a palavra "brega" nasceu em Salvador, Bahia. Numa região de meretrício, ficava a Rua Manuel da Nóbrega. O tempo corroeu a placa indicativa da rua. E da palavra Nóbrega, restou o seu final: brega. E o povo passou a se referir aos prostíbulos da zona do brega. A partir de 1980, dizem os pesquisadores, brega assosciou-se a tudo que fosse cafona. Tá? 
           

    
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 03/06/2009
Reeditado em 22/05/2013
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