DIA A DIA NA ACADEMIA
Há alguns anos, quando sonhava em cursar uma faculdade, esperava que esta fosse um lugar onde pudéssemos estabelecer alguns diálogos edificantes. Imaginei, inocentemente, que a vida acadêmica seria recheada de discussões enriquecedoras, pelo menos a respeito das próprias matérias que são objeto do curso. Em minha ingenuidade, esperava adentrar um “templo do saber”.
Esperava alunos interessados e professores comprometidos. Alguma efervescência política sobre questões relevantes, e um lugar onde houvesse instigação ao pensamento no sentido de construírmos algo de novo, de inusitado.
Minha experiência acadêmica é de franca desilusão. Não encontrei o ambiente propício a debates eloquentes sobre questões de relevo, não vi alunos sedentos por saber e com ânsia por questões inauditas. Contudo haja professores descompromissados, tive grande felicidade em encontrar alguns que são brilhantes. Tanto do ponto de vista do conhecimento quanto da presença de espírito.
Noto que quando o professor possui um humor fino, sutil e irônico, costuma machucar os egos de alguns boçais. Isso quando estes conseguem apreender o teor da anedota proferida pelo mestre. Certa docente diz que já se acostumou a ver apenas meia dúzia de alunos rindo de seus gracejos.
Ontem vi e ouvi palavras verdadeiramente decepcionantes, ou melhor, degradantes. Alunos que tentavam barganhar com o professor, o mais brilhante deles, uma prova menos rigorosa. Com questões em forma de testes ao invés de dissertativas. Houve até uma aluno mais apelativo que disse:
-“Professor, eu saio daqui e vou para casa dormir porque tenho que trabalhar amanhã. Portanto, não tenho tempo para estudar”.
O professor, como sempre, fez uso de seu brilhantismo na resposta:
-“Não posso nivelar o curso por baixo porque você não tem tempo para estudar. Você esperava que em cinco anos de curso não viesse a fazer nenhuma prova dissertativa?”.
Minha admiração pelo professor cresceu na mesma proporção que minha decepção para com o colega. Nisso, o mestre ria e ria. Divertia-se gostosamente. Sabe-se lá o que passava por sua cabeça. Um homem de seu calibre dando explicações desnecessárias a um bando de ignorantes, só mesmo rindo muito.
Pensei comigo que talvez este colega diga aos seus clientes no futuro, que não pode resolver suas causas, pois estudou pouco. Trabalhava na época, portanto o cliente deverá compreender sua limitação. Isso é claro, se este colega terminar o curso. E se ainda conseguir alcançar êxito nos exigentes exames que nos esperam.
Medonho. Esse é o adjetivo próprio para o acadêmico de direito brasileiro. Conforma-se com o pouco saber, convive bem com a sua própria mediocridade, não tem apreço pelo conhecimento, barganha por concessões em provas, em suma, brinca de estudante de direito. Não é de espantar os resultados das provas de Ordem e dos concursos públicos.
Minha consolação é que dessa forma, com concorrentes tão fracos, as portas se abrirão mais facilmente. Não será tarefa das mais árduas competir com esse mar de gente, considerando que em sua maioria primam pela falta de zelo pelo estudo.
Por fim, penso que aquela elite intelectual dos bacharéis em direito ficou no passado. Talvez minha pretensão seja demasiado elevada para os dias atuais. Dias em que celulares, notebooks, palmtops, MP3s e Ipods fazem a cabeça da juventude. Dias em que leitura de livros e discussões férteis dão espaço ao trivial e ao óbvio.
Eis a primeira década acadêmica do século XXI.