Viver não é preciso - ( à deriva)
 
Viver não é preciso. Não fui eu quem disse isso pela primeira vez. Foi uma Pessoa muito sensível, o poeta Fernando. E disse o que há de mais verdadeiro: da vida só podemos contar com a imprecisão. Pois, pois, eu diria se ele pudesse me ouvir. Viver é muito perigoso. Não fui eu também quem constatei isso pela primeira vez, foi outro gigante das letras, o João, que também era uma flor de pessoa, além de ser Guimarães das Minas Gerais. Vivemos à deriva, essa é que é a verdade. Como uma flor colhida pelo regato, um barquinho de papel carregado pela enxurrada. Como uma nau lançada ao oceano, que ora encontra um mar de calmaria ora um mar de tempestade. E ao contrário do mar que manda aviso aos bons marinheiros a vida não faz isso. Um dia o céu está azul no outro a cor já mudou. Pode até parecer uma contradição minha que acredito na teoria de causa e efeito. Não é. O que provoca toda essa imprecisão é que não sabemos identificar os sinais e quando tudo vai bem,  nos deixamos embalar pelas ilusões. Ouvimos o canto das Sereias e não percebemos as causas que geram os efeitos. Ficamos confusos. Perdemos então o rumo. Mas ela está lá, como é a lei da natureza. Dona Causa e Seu Efeito. Um casal inseparável. Sei que existe um porto de onde parti. Mas não me lembro dele. Sei que há um porto onde terei que descer, queira ou não queira. Mas enquanto isso,  busco seguir minha rota, cumprir meu destino mesmo que me sinta a deriva. Fácil não é, pois viver não é preciso. Muitas vezes o barco da vida se danifica. Ocorrem infiltrações e por um momento o desespero bate. E abate. Mas nunca deixarei que meu barco seja rebocado. Mesmo á deriva serei sempre eu a tentar conduzir minha vida. Aceitando ajuda, seja dos peixes do mar ou dos bichos do ar. Dos amigos. Pois quem ama a vida sempre tem amigos, não importa o reino que habitam. Buscarei ajuda sim, para vencer as tempestades e encontrar o caminho dos bons ventos condutores. Aqueles que me levarão até a Terra Prometida, o meu porto Final. Onde o mel escorre das montanhas e o Sol e a Lua se encontram.

Este texto faz parte do VIII  Desafio Recantista -  O tema: à deriva. Leia as outras autoras.