Deitada no fundo do barco - À Deriva
Ora, eu vou ficar deitada no fundo desse barco, respirando todo o azul do céu e com as velas paradas! Deixe-me em paz!
Sim, deve haver muita coisa para fazer. E daí? Eu navego sem norte, a bússola quebrou há pouco e eu a joguei fora.Mas não me importo em navegar sem leme, pois sei que uma hora o mundo acaba. Quero ficar aqui nesse silêncio, apenas ouvindo o vento ventar. Esse mar salgado nunca me foi tão doce.
Quero jogar no mar todas as palavras que ressoam fortemente cruéis; afogar a angústia daquela que se apaixonou, permitindo que o vento enfunasse a vela de seu barco-coração e a empurrasse para a direção que ele bem entendesse; dar aos tubarões a tristeza da família que espera as águas da enchente abaixarem para retomarem o curso de suas vidas; quero ficar aqui, debaixo desse sol a pino, matutando por que há quem não se encante mais com as cores da natureza, não reaja ante um riso de criança, não vibre com um solo de saxofone.Com licença, tenho mais fazer aqui que aí em terra firme!
Eu sou uma timoneira sem qualquer controle sobre a embarcação.Pelo menos uma vez na vida, uma vezinha só, eu pretendo que as coisas sejam assim. Estou à deriva num mar solitário, à mercê das águas. E da vida. Parei de remar contra a maré. Vou esperar a onda grandiosa se desmanchar para agir.Sem pressa.
Quando a onda vem mais forte e sacode-me de um lado para o outro, mudando mais uma vez o destino da viagem, eu rogo a Deus que me proteja.E é só isso.
Quem sabe depois da tormenta, eu divise a solução dos meus problemas e um novo texto surja da minha mente temperada com o sal do mar!? Afinal, navegar no mar literário também é preciso.
Mas por enquanto, por favor, deixe-me aqui.
Só quando eu tiver enjoada dessa mesmice é que abandonarei esse velho barco.Por hora, estou sim, à deriva. Só vou sair daqui para descobrir o Novo Mundo.O meu.
(Maria Shu – 02 de junho de 2009)
Esse texto faz parte do VIII Desafio Recantista .Conheça outras crônicas com o título precedido de " À Deriva".
Boa leitura!