Tentar e ousar
Abrir a lata de lixo e jogar fora um AR dos Correios, provando que livros chegaram ao seu destino.
Dá uma impressão de sepultamento de um sonho. Mas passa. Afinal, é uma obra publicada, bem escrita e nem um pouco chata. Quem escreve acredita na oportunidade de ao menos classificar-se entre os dez primeiros do Premio São Paulo de Literatura.
Instituído há dois anos apenas, é o maior brasileiro. Duzentos mil reais para o primeiro colocado e outros tantos para o primeiro estreante. Aceita apenas livros publicados.
Já nem me incomodava mais com tanto dinheiro; apenas ser um dos dez finalistas já seria um excelente resultado.
Nada!
O nome não sai na lista. Mas é bom que se diga que preparado para isto eu estava, de sobra. Quem se mete num concurso destes deve saber escutar um sonoro não! Faz parte, como é a maneira de dizer atual.
Até que não foram tantos inscritos. Duzentos e dezessete, incluindo ambas categorias. Como sonhar nunca foi proibido, vi-me no palco iluminado, terno novo, sapatos luzindo, barba aparada com cuidado. O dinheiro ajuda muito, mas felizmente o que ganho é o suficiente para viver com dignidade.
Importante mesmo é vencer! Abrem-se as portas das editoras, acaba o corre-corre, você não procura mais, é procurado. Mas o livro tem que ser compatível com o valor do premio e suas consequências.
Não estava e não está. O gênero já não ajuda muito. Ficção, sendo um atentado político. Fecha uma porta, abre-se outra, com personagem diferente. Nem todos gostam. Os concorrentes são fortes, experimetados.
O que não pode impedir de tentar e ousar.
Não fui recusado. Quando fiz a inscrição, eu sabia que esta era a dura regra do jogo.