O OUTRO LADO DO PORTFÓLIO AVALIATIVO (Você é o que é seu portfólio!?)

Claudeci Ferreira de Andrade

Uma mulher idosa, professora experiente, que já gozava de uma avantajada dose de discriminação, pois andava sem muita criatividade profissional, aceitou o desafio de fazer o portfólio como seu “salvador da pátria”, e encontrou grande alegria em juntar fotos, projetinhos, trabalhos, folders, diplomas e papeladas mil! Alguns dias depois de avaliada pela comissão, um colega interrogou-a sobre sua nova experiência.

— Deve ter abandonado muitos afazeres importantes para reservar tempo para a confecção desse portfólio. A senhora comprometeu a dedicação ao lar, a família e até “desenterrou defunto” – tudo. Não é sacrifício demasiado para fazer uma coisa ridícula e inútil como é o tal portfólio?

A velha professora meditou um momento:

— Colega – disse ela com sinceridade – constantemente me perguntam a respeito do que eu deixei de fazer por isso ou aquilo que faço na escola. É estranho, mas jamais alguém me perguntou sobre os benefícios disso ou aquilo que faço na escola. Na verdade eu deixei de fazer muito pouco, comparando com o lucro social e na relação com meus superiores. “O meu copo transborda”. Agora que tenho um portfólio em mãos, tenho tudo o que preciso para dizer quem sou eu. Sendo assim, tudo que o coração de uma professora como eu pode desejar é o reconhecimento profissional. Nas páginas abarrotadas de boas informações maquiadas ou não, compradas ou não, encontra-se tudo que uma comissão amiga pode desejar. A comissão não apenas pode ver o meu alvo de perfeição, mas pode também fornecer-me orientações para que possa alcançá-lo. Ao aceitarmos essas orientações nos tornamos melhores profissionais. Mediante horas a fio em contato com a matéria a ser portfoliada, a consciência se aguça, tornando-se realidade dentro da minha alma que ainda está sedenta. Nada há para o presente ou para o futuro de um profissional que uma comissão avaliadora não possa perceber mediante a sistemática análise do seu portfólio. Podemos nos tornar completos nele.

Também consigo ver esse lado que a velha professora viu. Tudo pode ser nosso, o que ainda não foi conquistado, quando apresentamos um excelente portfólio. Ele é fonte de um bom trabalho, de conhecimento e de realizações. Dele flui luz, esperança, capricho, esforço e conforto. Ele é o transformador de situação. É o manancial das revelações. Nenhuma segurança profissional maior pode alguém possuir do que a promessa de promoção, asseverada ali. É uma gostosa "verdade": você é o que é seu portfólio! Só suspeito que a professora estava sendo tão irônico como eu estou sendo agora!

O portfólio é uma espécie de Curriculum Vitae, pedi-lo como requisito para contratar é bastante coerente, mas para já empregados eis a questão.