COTIDIANO

Adoro plantas, principalmente as que produzem flores, pois dão mais colorido ao nosso dia. Orquídeas são as minhas maiores paixões... E amor-perfeito que só florescem no inverno. Mas, todas têm a sua beleza!

No fim de semana passado, me deparei com um pequeno pé de Maria Sem Vergonha, minúsculo (não tinha mais que 5 cm de altura) e já florido e lotado de botões. Não resisti e o tirei do lugar onde se encontrava, um canto da rua, entre paralelepípedos e displicentemente a trouxe para casa.

Plantei-a num pequeno vaso e a coloquei no meio de outros, junto às minhas orquídeas!

Qual não foi a minha surpresa, dois dias depois, ver que a plantinha que tinha tão brutalmente sido arrancada estava tão radiante como a encontrei.

Maria Sem Vergonha? Paro para pensar no porque desse nome...

Suas flores que brilham ao sol tem um cintilante mágico, que nos enfeitiça o olhar, mesmo sendo pequenas e de constituição delicada e simples. Apesar dessa pretensa delicadeza, sobrevive nas mais rudes condições, sendo encontrada em serras, beira de estrada, ou como eu a encontrei, entre a selva de pedra que o homem criou.

Não deveria ser chamada então de Maria Resistente? Maria Fortaleza? Maria Guerreira? Não!... O homem é pequeno demais para ver o lado positivo das coisas!

Sem vergonha, aquela que não tem vergonha. Mas do que ela devia se envergonhar? De sua singela e simples beleza? De seu brilho que enfeitiça o olhar até mesmo do mais rude olhar? De mesmo entre as mais nobres e caras de sua espécie vegetal ainda conseguir o seu destaque? De sobreviver mantendo suas características em todo e qualquer tipo de ambiente?

E isso tudo me faz pensar no homem... em seus parcos conceitos e grandes preconceitos.

Quantas "Marias Sem Vergonha" foram assim chamadas somente por serem guerreiras, não terem medo de se expor, brilharam nos campos que não deveriam brilhar, ousaram dividir espaços sem se importar com o que poderiam achar!

Quantas de nós não sentiram essa discriminação! Quantas que deveriam ser chamadas de Maria Guerreira, Maria Ousadia, Maria Vencedora não acabaram à margem de uma sociedade medíocre por terem origem simples! Quantas não foram discriminadas por ousar simplesmente se destacar com sua peculiar simplicidade dentre as nobres filhas do dinheiro escuso, de uma sociedade corrompida!

Valores... mas o que são valores hoje no nosso cotidiano, se afastam cada vez mais das definições dadas por todo e qualquer dicionário...

Mudaram-se os conceitos, ou o homem incluiu nele os seus preconceitos e suas necessidades? Sim... porque o homem, corrompido pela riqueza fácil acabou incluindo em seus parâmetros, aquilo que mais lhe beneficiava no momento.

Foi quando o que era, deixou de ser... O que não deveria ser jamais, passou a ser.

Mas a pergunta que me fica é: Quando voltaremos a rever esses conceitos, que hoje tantos lutam para que mudem, mas que realmente nada fazem para a mudança?

Faço aqui minha parte. Tenho hoje uma linda plantinha chamada Maria Guerreira! Ou Maria Vencedora, aquela que não tem vergonha se ser feliz!

Santo André,16.03.04 - 10:43 h