Insight sobre o desejo masculino
Ganhei um copo plástico. Mas é um copo plástico diferente: é alto e tem um formato esguio, mais largo na parte superior. Sua cor é muito bonita, um verde claro agradável, além de ser totalmente transparente. O material, apesar de ser pouco nobre, tem a textura do cristal: firme e rígido, porém fino e delicado. Gostei tanto deste copo que o deixo sob o filtro, bem à mão para tomar água.
E notei que, desde seu advento, tenho tomado mais água que o normal. Passo ali, vejo o copo e, ato contínuo, encho-o de água. Para quem, como eu, não é adepta de ficar circulando com garrafinhas de água mineral - e que às vezes só lembra do líquido quando toma banho ou lava as mãos -, a experiência tem sido saudável. Mas outro dia meu filho verbalizou o que até então para mim se mostrava apenas sutilmente, após beber com largos goles um copo cheio: “Mãe, esse copo dá vontade de tomar água!”
Num instante, percebi duas coisas. A primeira: entendi como funciona o desejo sexual de um homem, exatamente como se fosse um deles. A mera visão de um belo exemplar de copo me desperta sede. E se já estiver com sede, ô Deus, com que prazer sorvo água naquele copo!... Mesmo que, saciada após beber a água, perceba racionalmente que é uma ilusão, que qualquer copo mataria minha sede porque é o líquido que o faz (e não o recipiente), não deixo de lavá-lo com cuidado e colocá-lo com orgulho novamente ali, sob o filtro, exposto aos meus olhares de admiração.
Outra coisa que aprendi, entendendo por dentro o desejo masculino: a empatia é revolucionária, porém só temos a verdadeira dimensão do sentimento do outro quando efetivamente sentimos o mesmo. Muitas vezes tentamos nos colocar no lugar de nosso semelhante sem sucesso, pois não alcançamos de fato seu íntimo. Quando passamos pela mesma experiência, aí sim, conseguimos realmente compreender e aceitar as atitudes e sensações alheias. E isso, como conseqüência, seria uma revolução para chegarmos ao patamar de civilização sem preconceito que tanto almejamos.
Agora, chutando o balde sem empatia nenhuma, femininamente aviso a uns e outros: nada de copinho bonitinho, hein? Pega lá teu copo de vidro de sempre, durável e irrepreensível, e toma tua água nele mesmo. Senão vou te mandar beber direto da torneira! Isso depois de ter fechado o registro...