Uma onça no meio do caminho

Quando o friozinho começa eu me lembro das férias de julho que passávamos na fazenda Santa Cruz, no município de Jambeiro, até hoje uma cidade bem pequena. Fica numa região montanhosa logo no início da Serra do Mar e por causa desta localização o clima ali é especial: durante o dia o sol racha e à noite faz um frio do cão.

O caminho que ligava a Santa Cruz ao mundo era precário. Viajávamos por uma estradinha de terra e se ela estivesse molhada, não dava passagem. Nessas horas todos desciam para empurrar o jipe atolado. Além disso, passávamos por dentro de muitas fazendas e a todo instante tínhamos que abrir porteiras. Esse trabalho não molestava as crianças, nos sentíamos importantes.

O motorista do nosso jipe era um homem magrinho que tinha um nome esquisito. Para facilitar, nós o apelidamos de Viaginha, por motivos óbvios. Sua incumbência não era somente a de nos transportar, ele viajava muito, levando produtos da fazenda para a cidade. E quando estava conosco, bem que se divertia.

Quando se via sozinho com as crianças, gostava de nos assustar. De repente dava uma freada, porque tinha visto uma onça no meio da mata. Mortos de medo, descíamos para melhor enxergá-la. Era feio não ver a onça, todo mundo via.

Viaginha, então, com ares de valentão, sacava o revólver da cintura e atirava nela. Dizia que desta vez lhe arrancaria as penas! Com efeito, muitas penas voavam no meio das árvores ... Juro que vi!

Por essas e outras, as férias passavam depressa e ninguém queria voltar às aulas. No último dia era uma choradeira geral.