Perdas e ganhos

Tenho uma teoria, uma versão de perde-ganha para o jogo do feliz no século XXI: se suprimirmos os detalhes que nos impedem de ser isentos, é possível ser objetivo e positivo sobre qualquer tema.

Vou começar por Adão, mas já já chego ao Lula. Se Adão não tivesse sucumbido à tentação da fruta, hoje estaríamos todos sem roupas e sem impostos. Perdemos o Paraíso, é verdade, mas ganhamos a indústria da moda, a Playboy e a possibilidade de falar mal da maneira como os governantes aplicam nosso suado dinheiro.

Guerras são sempre uma fria, não é? Ao relevar os detalhes - as razões hipócritas para começá-las, as ameaças, a devastação, morte e mutilação de quem não tinha nada a ver com a história, o legado de ódio e retaliações -, elas transformam-se em hot stuff. Por sua causa progridem a tecnologia, a indústria bélica e os negócios de reconstrução massiva. Há implicações interessantes: o teste nuclear recém realizado pela Coreia do Norte fez muita gente sentir saudades da relativa segurança da Guerra Fria. Bons tempos aqueles em que o progresso moral repudiava a sujeição dos seres humanos.

A teoria pode ser igualmente aplicada à vida pessoal. Tenho uma amiga que perdeu em pouco mais de um ano o pai num acidente de trânsito e o lar de comercial de margarina num divórcio conturbado. O emocional está, compreensivelmente, em frangalhos. Em compensação ela está linda: o sofrimento inibiu seu apetite e ela ganhou um corpinho de modelo – sem contar o olhar misterioso e profundo que só as grandes desilusões provocam. Chega a dar inveja.

Airton Senna é lembrado ainda hoje, quinze anos após sua morte, por suas virtudes técnicas e humanas. Segundo o raciocínio da revista Superinteressante, se ele não tivesse morrido, possivelmente teria sido pentacampeão da Fórmula 1. Com o apoio de Senna, seu amigo e eleitor convicto, Paulo Maluf ganharia as eleições para governador de São Paulo em 1998, numa trajetória que culminaria na Presidência da República. Há males que vem...

No Brasil há desemprego, tácita aliança de banditismo empresarial e amoralismo político, professor com ensino fundamental dando aula para alunos de ensino médio e corrupção deslavada. Em compensação, o real valorizou-se diante do dólar, nos damos ao luxo de poder emprestar dinheiro ao FMI e a futura presidência da PTbrás acabou de ser loteada por Lula, o cara do Obama. Sem contar o aumento de 25% do montante de dólares gastos por brasileiros no exterior em abril.

Está difícil ver o lado bom da vida? Saia da real : Pollyanna nela!!!

Este texto faz parte do exercício criativo "Perdas e ganhos"

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Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 01/06/2009
Reeditado em 05/06/2009
Código do texto: T1626374
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